3ª Jornada de História da Arquitetura em Portugal | 2014
Cenários Urbanos _ A fachada
Textos de Apoio
A Fachada. Do nascimento às metamorfoses - sistemas construtivos básicos e respetivos códigos linguísticos
José César Vasconcelos Quintão
Professor Jubilado da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
Professor Jubilado da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto
Programa:
1. O nascimento da fachada
2. Sistema esquelético - cabanas
3. Sistema parietal e a invenção do cunhal
4. Grécia e o sistema esquelético
5. Roma e a herança grega. Simbiose entre expressões construtivas - o descobrimento da abóbada
6. Românico - sistema parietal
7. Gótico - sistema parietal/esquelético
8. Renascença, Maneirismo, Barroco e Neoclassicismo - sistema esquelético e parietal - a verosimilhança como fator primordial
9. A aventura do Movimento Moderno
10. Atualidade
1. O nascimento da fachada
2. Sistema esquelético - cabanas
3. Sistema parietal e a invenção do cunhal
4. Grécia e o sistema esquelético
5. Roma e a herança grega. Simbiose entre expressões construtivas - o descobrimento da abóbada
6. Românico - sistema parietal
7. Gótico - sistema parietal/esquelético
8. Renascença, Maneirismo, Barroco e Neoclassicismo - sistema esquelético e parietal - a verosimilhança como fator primordial
9. A aventura do Movimento Moderno
10. Atualidade
Os Edifícios Religiosos e a Definição do Espaço Público: o exemplo de Viseu na Época Moderna
Doutora em História da Arte Portuguesa | Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viseu | CITCEM
A tendência normal da historiografia de arte, apesar de alguns estudos recentes parecerem inverter em parte essa propensão, é debruçar-se sobre as edificações relacionadas com o poder, seja ele civil ou religioso. Portadores de vestígios materiais mais marcantes e, diretamente relacionáveis com os quadros mentais e políticos do período em que se inserem, são normalmente os edifícios mais conhecidos do ponto de vista documental e mais ricos do ponto de vista material.
A cidade de Viseu não é de forma alguma exceção. Não possuindo qualquer plano prévio que delimite o seu traçado ou regularize as suas expansões, a renovação da cidade antiga, ao longo da época moderna, e a construção dos novos bairros nos arrabaldes estruturaram-se em redor de edifícios âncora, que introduziram novas linguagens arquitetónicas e criaram novos pontos de fuga na malha pré existente.
Os séculos XVII e XVIII, com particular preponderância do último devido a condições económicas e políticas mais favoráveis, pautaram-se por um substancial incremento da atividade construtiva inserida em contexto religioso. Quer tratando-se de novas edificações, construídas de raiz de acordo com as novas estéticas e planimetrias, quer tratando-se de obras de renovação, visando atualizar, do ponto de vista estético e funcional, os edifícios já existentes, estamos perante um dos períodos mais profícuos da arquitetura religiosa.
Essa mesma realidade é verificável na cidade de Viseu, dos catorze espaços religiosos abertos ao público, identificados em finais do século XVIII, apenas três, a Capela de Santa Cristina, a Capela de São Lázaro e a Capela de Nossa Senhora do Pranto, não sofreram qualquer intervenção arquitetónica durante o período em análise.
Assiste-se assim a um impressionante fluxo de renovação que vai moldar definitivamente a face da urbe, contribuindo para a criação de novas centralidades, através da definição de novos eixos agregadores, e de novos cenários para a vida pública.
No século XVII assistimos à renovação da Sé através construção de uma nova fachada, tornada necessária pela derrocada da anterior, e da nova capela-mor. Igualmente o Convento de Jesus vê o seu processo construtivo desenvolver-se, datando desta centúria a sua capela.
É construída de raiz a capela de Nossa Senhora da Vitória logo em 1605 e, um pouco mais tarde, mas em localização próxima, o Convento franciscano de Santo António, ambos no Rossio de Massorim, começando a expansão das construções religiosas para a zona extramuros da cidade.
No século XVIII as grandes edificações vão situar-se precisamente nos Rossios da cidade, extrapolando os limites anteriormente impostos pela cerca medieval e criando novos eixos. No Rossio de Maçorim vai ser construída, anexa ao já referido Convento de Santo António, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco; no Rossio de Santa Cristina vai ser erguido o Convento do Oratório de São Filipe Néri e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo; no Rossio da Ribeira vai ser, não construída de raiz, mas reconstruída segundo parâmetros modernos, a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira. A única construção religiosa intramuros na centúria de setecentos é a Capela de Nossa Senhora dos Remédios “sacralizando” a já existente Praça da Erva.
Se a capela de Nossa Senhora da Vitória (1605) e a fachada da Sé de Viseu (1635) apresentam uma linguagem ainda claramente maneirista e, o desaparecido Convento de Santo António (1635-1646), sugere, nas poucas imagens que dele chegaram até nós, uma contenção claramente “chã”, correspondendo a uma estética idêntica, os demais edifícios apresentam já uma linguagem claramente barroquizante. Linguagem essa de acordo com a cronologia em que se inserem que medeia entre os anos 30 e os 50 do século XVIII, exceção feita à fachada da Igreja da Misericórdia datada já de 1775.
A cidade medieval vai assim transformar-se na cidade moderna através da introdução de novas linguagens arquitetónicas nas fachadas dos edifícios religiosos, da consubstanciação de novos eixos, físicos e simbólicos, e da consolidação de novos espaços públicos.
A cidade de Viseu não é de forma alguma exceção. Não possuindo qualquer plano prévio que delimite o seu traçado ou regularize as suas expansões, a renovação da cidade antiga, ao longo da época moderna, e a construção dos novos bairros nos arrabaldes estruturaram-se em redor de edifícios âncora, que introduziram novas linguagens arquitetónicas e criaram novos pontos de fuga na malha pré existente.
Os séculos XVII e XVIII, com particular preponderância do último devido a condições económicas e políticas mais favoráveis, pautaram-se por um substancial incremento da atividade construtiva inserida em contexto religioso. Quer tratando-se de novas edificações, construídas de raiz de acordo com as novas estéticas e planimetrias, quer tratando-se de obras de renovação, visando atualizar, do ponto de vista estético e funcional, os edifícios já existentes, estamos perante um dos períodos mais profícuos da arquitetura religiosa.
Essa mesma realidade é verificável na cidade de Viseu, dos catorze espaços religiosos abertos ao público, identificados em finais do século XVIII, apenas três, a Capela de Santa Cristina, a Capela de São Lázaro e a Capela de Nossa Senhora do Pranto, não sofreram qualquer intervenção arquitetónica durante o período em análise.
Assiste-se assim a um impressionante fluxo de renovação que vai moldar definitivamente a face da urbe, contribuindo para a criação de novas centralidades, através da definição de novos eixos agregadores, e de novos cenários para a vida pública.
No século XVII assistimos à renovação da Sé através construção de uma nova fachada, tornada necessária pela derrocada da anterior, e da nova capela-mor. Igualmente o Convento de Jesus vê o seu processo construtivo desenvolver-se, datando desta centúria a sua capela.
É construída de raiz a capela de Nossa Senhora da Vitória logo em 1605 e, um pouco mais tarde, mas em localização próxima, o Convento franciscano de Santo António, ambos no Rossio de Massorim, começando a expansão das construções religiosas para a zona extramuros da cidade.
No século XVIII as grandes edificações vão situar-se precisamente nos Rossios da cidade, extrapolando os limites anteriormente impostos pela cerca medieval e criando novos eixos. No Rossio de Maçorim vai ser construída, anexa ao já referido Convento de Santo António, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco; no Rossio de Santa Cristina vai ser erguido o Convento do Oratório de São Filipe Néri e a Igreja da Ordem Terceira do Carmo; no Rossio da Ribeira vai ser, não construída de raiz, mas reconstruída segundo parâmetros modernos, a Capela de Nossa Senhora da Conceição da Ribeira. A única construção religiosa intramuros na centúria de setecentos é a Capela de Nossa Senhora dos Remédios “sacralizando” a já existente Praça da Erva.
Se a capela de Nossa Senhora da Vitória (1605) e a fachada da Sé de Viseu (1635) apresentam uma linguagem ainda claramente maneirista e, o desaparecido Convento de Santo António (1635-1646), sugere, nas poucas imagens que dele chegaram até nós, uma contenção claramente “chã”, correspondendo a uma estética idêntica, os demais edifícios apresentam já uma linguagem claramente barroquizante. Linguagem essa de acordo com a cronologia em que se inserem que medeia entre os anos 30 e os 50 do século XVIII, exceção feita à fachada da Igreja da Misericórdia datada já de 1775.
A cidade medieval vai assim transformar-se na cidade moderna através da introdução de novas linguagens arquitetónicas nas fachadas dos edifícios religiosos, da consubstanciação de novos eixos, físicos e simbólicos, e da consolidação de novos espaços públicos.
As Fachadas dos Edifícios Religiosos de Guimarães no Espaço Urbano (Sécs. XVI-XVIII)
António
José de Oliveira
Doutor em História da Arte Portuguesa | Docente na Escola EB 2,3 Caldas das Taipas | Membro da direção da Muralha-associação de Guimarães para a defesa do património
Doutor em História da Arte Portuguesa | Docente na Escola EB 2,3 Caldas das Taipas | Membro da direção da Muralha-associação de Guimarães para a defesa do património
O próspero crescimento ao longo dos séculos atraiu à atual cidade de Guimarães, vila até 22 de Junho de 1853, um número crescente de habitantes dos mais diversos ofícios e estratos sociais que obviamente imprimiram uma fisionomia característica à estrutura urbana, mas que cuja tipologia própria se reflete na existência de um dédalo de ruas medievais confinadas numa malha urbana estreita, que nos oferecem muitas vezes a surpresa de desembocar em praças e terreiros monumentais ou em espaços valorizados com edifícios de mole imponente construídos em época posterior já no século XVII e XVIII, em que as edificações de estilo Barroco e Rococó se destacam no meio do apinhado casario medieval.
O núcleo urbano do centro histórico de Guimarães que desde cedo se destacou no noroeste de Portugal, não é de estranhar que tenha atraído uma diversidade de artesãos e mestres de diversos ofícios, que para além de contribuírem por iniciativa própria ou por outrem para a transformação e enriquecimento do património construído, deram uma feição peculiar à morfologia urbana do burgo, não apenas em relação à tipologia das construções, mas também a ruas inteiras, onde surgem ligados aos diversos mesteres.
Esta cidade que conseguiu atravessar o tempo mantendo viva a mensagem do seu passado, possibilita a todos aqueles que a percorrem atentamente, constatar o labor artístico de mestres oriundos de diferentes locais do noroeste peninsular, que encontravam um desenvolvimento construtivo bastante significativo nesta cidade, que lhes possibilitava manter em laboração toda a sua vasta oficina que compreendia aprendizes, obreiros e oficiais.
A partir dos finais do século XVI, a Colegiada constituíra-se como o principal poder do concelho, ocupando o lugar que fora até aí da corte bragantina. Até finais do século XVII, ela será o pólo dinamizador de Guimarães, mas rapidamente os conventos masculinos e femininos da vila e dos arredores, a Misericórdia e as Ordens Terceiras competem com a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Nos domínios da arquitetura e das artes decorativas, estas instituições desempenham um papel fundamental. Nesse âmbito, são chamados a Guimarães conceituados artistas, maioritariamente portuenses, barcelenses, bracarenses e do reino da Galiza, com os quais penetraram na vila novos discursos artísticos.
Nos derradeiros anos do século XVII e na centúria seguinte, a morfologia urbana de Guimarães sofre alterações significativas, particularmente no levantamento e remodelação de edifícios religiosos e civis e de infraestruturas urbanas. Nesse período, a atividade arquitetónica em Guimarães desenvolveu-se em três grandes áreas: imóveis construídos de raiz; conclusão de programas construtivos anteriores; e acrescentamento de estruturas barrocas nos edifícios medievais.
Antes de dissertar sobre um edifício religioso, temos que perceber porque motivo, esta ou aquela zona do aglomerado vimaranense se destacou, em dado momento, em detrimento de outros; porque é que certas artérias do espaço urbano ganharam a forma com que chegaram aos nossos dias; qual o fundamento, para a edificação de conventos e igrejas em determinadas ruas e praças. Na realidade, além de reconstituir a atividade artística de mestres e oficiais é necessário relacionar a produção artística ao pulsar da urbe e dos seus inúmeros encomendadores.
Edifícios tais como a Colegiada e a Casa do Cabido, bem como Convento de Santa Clara vão adquirir grande individualidade e expressão no seu posicionamento urbano. Por exemplo, no século XVI, a Colegiada localizada na Praça de Santa Maria, centro vital de Guimarães, que polarizava os interesses da população urbana, é ampliada com a construção de uma torre na sua fachada principal, aí se instalando a capela tumular dos Pinheiros.
Novas obras vão mudando a face da cidade. em 1549, é lançada a primeira pedra para a construção do novo convento de Santa Clara. A sua construção e a abertura do novo terreiro, junto à rua de Santa Maria, levou à demolição de casas, pardieiros e quintais na rua de Santa Maria. Este edifício de grande escala e criador de um novo terreiro (atual largo Cónego José Maria Gomes) possui uma frontaria principal majestosa (1741), virada a oeste, bastante decorada, do qual a praça proporciona a distância necessária à leitura cenográfica desta fachada barroca de falsa simetria.
Igualmente, a edificação da igreja (de feição retabular), casa do despacho e hospital da Santa Casa, no Terreiro da Misericórdia, ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, proveram esse terreiro de uma conjugação recíproca de efeito monumental e cénico.
Um caso singular, de acrescentamento de estruturas barrocas num portal gótico encontra-se na Igreja do Convento de São Domingos. Em 1770, por voto de D. Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado refez-se a porta principal, conforme inscrição aí existente.
Vários casos encontramos de construção de torres sineiras, que são acrescentadas à fachada principal, citemos: a igreja de São Dâmaso e a desaparecida igreja de São Paio. Outro caso, deparamo-nos com o acrescentamento das duas torres sineiras no século XIX, que alteram a leitura cenográfica da igreja dos Santos Passos, no Campo da Feira.
Noutros casos, tal como sucedeu com a fachada do dormitório do Convento de Santa Marinha da Costa, foram dificuldades topográficas do terreno, que obrigam a determinadas opções construtivas, como seja a edificação de uma varanda, denominada de Frei Jerónimo, que remata a ala oriental. Simultaneamente, o extenso desenho da fachada da Igreja do Convento do Carmo, que acompanha o desnível topográfico da antiga rua da Infesta, justifica algumas das suas preferências construtivas.
Caso singular encontramos nos dois projetos da nova Casa do Cabido, um deles de 1772 e outro do final da década de 80 do século XVIII, que subsistiram até hoje. No entanto, nenhuns destes conjuntos de plantas foram postos em prática. O terceiro projeto, do qual desconhecemos a planta, foi materializado na fachada principal da Casa do Cabido (atualmente Museu de Alberto Sampaio). Em 1787, é celebrado o contrato de obra desta nova Casa Capitular, entre o Cabido e os mestres pedreiros. Para este empreendimento, o Cabido obtém autorização para que a pedra da torre da Senhora da Guia fosse aplicada na edificação deste imóvel. Mais tarde, o Cabido requer a total demolição da dita torre, que possibilitaria uma maior integração do edifício no espaço urbano vimaranense, que na época se renovava e se libertava das muralhas.
Em suma, nesta apresentação tentaremos relacionar a evolução e a integração das fachadas dos conventos femininos, igrejas paroquiais, ordens terceiras e da Misericórdia, na malha urbana ao longo dos séculos XVI a XVII.
O núcleo urbano do centro histórico de Guimarães que desde cedo se destacou no noroeste de Portugal, não é de estranhar que tenha atraído uma diversidade de artesãos e mestres de diversos ofícios, que para além de contribuírem por iniciativa própria ou por outrem para a transformação e enriquecimento do património construído, deram uma feição peculiar à morfologia urbana do burgo, não apenas em relação à tipologia das construções, mas também a ruas inteiras, onde surgem ligados aos diversos mesteres.
Esta cidade que conseguiu atravessar o tempo mantendo viva a mensagem do seu passado, possibilita a todos aqueles que a percorrem atentamente, constatar o labor artístico de mestres oriundos de diferentes locais do noroeste peninsular, que encontravam um desenvolvimento construtivo bastante significativo nesta cidade, que lhes possibilitava manter em laboração toda a sua vasta oficina que compreendia aprendizes, obreiros e oficiais.
A partir dos finais do século XVI, a Colegiada constituíra-se como o principal poder do concelho, ocupando o lugar que fora até aí da corte bragantina. Até finais do século XVII, ela será o pólo dinamizador de Guimarães, mas rapidamente os conventos masculinos e femininos da vila e dos arredores, a Misericórdia e as Ordens Terceiras competem com a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Nos domínios da arquitetura e das artes decorativas, estas instituições desempenham um papel fundamental. Nesse âmbito, são chamados a Guimarães conceituados artistas, maioritariamente portuenses, barcelenses, bracarenses e do reino da Galiza, com os quais penetraram na vila novos discursos artísticos.
Nos derradeiros anos do século XVII e na centúria seguinte, a morfologia urbana de Guimarães sofre alterações significativas, particularmente no levantamento e remodelação de edifícios religiosos e civis e de infraestruturas urbanas. Nesse período, a atividade arquitetónica em Guimarães desenvolveu-se em três grandes áreas: imóveis construídos de raiz; conclusão de programas construtivos anteriores; e acrescentamento de estruturas barrocas nos edifícios medievais.
Antes de dissertar sobre um edifício religioso, temos que perceber porque motivo, esta ou aquela zona do aglomerado vimaranense se destacou, em dado momento, em detrimento de outros; porque é que certas artérias do espaço urbano ganharam a forma com que chegaram aos nossos dias; qual o fundamento, para a edificação de conventos e igrejas em determinadas ruas e praças. Na realidade, além de reconstituir a atividade artística de mestres e oficiais é necessário relacionar a produção artística ao pulsar da urbe e dos seus inúmeros encomendadores.
Edifícios tais como a Colegiada e a Casa do Cabido, bem como Convento de Santa Clara vão adquirir grande individualidade e expressão no seu posicionamento urbano. Por exemplo, no século XVI, a Colegiada localizada na Praça de Santa Maria, centro vital de Guimarães, que polarizava os interesses da população urbana, é ampliada com a construção de uma torre na sua fachada principal, aí se instalando a capela tumular dos Pinheiros.
Novas obras vão mudando a face da cidade. em 1549, é lançada a primeira pedra para a construção do novo convento de Santa Clara. A sua construção e a abertura do novo terreiro, junto à rua de Santa Maria, levou à demolição de casas, pardieiros e quintais na rua de Santa Maria. Este edifício de grande escala e criador de um novo terreiro (atual largo Cónego José Maria Gomes) possui uma frontaria principal majestosa (1741), virada a oeste, bastante decorada, do qual a praça proporciona a distância necessária à leitura cenográfica desta fachada barroca de falsa simetria.
Igualmente, a edificação da igreja (de feição retabular), casa do despacho e hospital da Santa Casa, no Terreiro da Misericórdia, ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, proveram esse terreiro de uma conjugação recíproca de efeito monumental e cénico.
Um caso singular, de acrescentamento de estruturas barrocas num portal gótico encontra-se na Igreja do Convento de São Domingos. Em 1770, por voto de D. Rodrigo de Sousa da Silva Alcoforado refez-se a porta principal, conforme inscrição aí existente.
Vários casos encontramos de construção de torres sineiras, que são acrescentadas à fachada principal, citemos: a igreja de São Dâmaso e a desaparecida igreja de São Paio. Outro caso, deparamo-nos com o acrescentamento das duas torres sineiras no século XIX, que alteram a leitura cenográfica da igreja dos Santos Passos, no Campo da Feira.
Noutros casos, tal como sucedeu com a fachada do dormitório do Convento de Santa Marinha da Costa, foram dificuldades topográficas do terreno, que obrigam a determinadas opções construtivas, como seja a edificação de uma varanda, denominada de Frei Jerónimo, que remata a ala oriental. Simultaneamente, o extenso desenho da fachada da Igreja do Convento do Carmo, que acompanha o desnível topográfico da antiga rua da Infesta, justifica algumas das suas preferências construtivas.
Caso singular encontramos nos dois projetos da nova Casa do Cabido, um deles de 1772 e outro do final da década de 80 do século XVIII, que subsistiram até hoje. No entanto, nenhuns destes conjuntos de plantas foram postos em prática. O terceiro projeto, do qual desconhecemos a planta, foi materializado na fachada principal da Casa do Cabido (atualmente Museu de Alberto Sampaio). Em 1787, é celebrado o contrato de obra desta nova Casa Capitular, entre o Cabido e os mestres pedreiros. Para este empreendimento, o Cabido obtém autorização para que a pedra da torre da Senhora da Guia fosse aplicada na edificação deste imóvel. Mais tarde, o Cabido requer a total demolição da dita torre, que possibilitaria uma maior integração do edifício no espaço urbano vimaranense, que na época se renovava e se libertava das muralhas.
Em suma, nesta apresentação tentaremos relacionar a evolução e a integração das fachadas dos conventos femininos, igrejas paroquiais, ordens terceiras e da Misericórdia, na malha urbana ao longo dos séculos XVI a XVII.
Caracterização Tipológica das Fachadas das Igrejas Paroquiais na Antiga Comarca da Feira (Sécs. XVI-XX)
Sofia Nunes Vechina
Doutoranda em História da Arte Portuguesa na FLUP | Bolseira da FCT | CITCEM
Doutoranda em História da Arte Portuguesa na FLUP | Bolseira da FCT | CITCEM
Comarca é uma divisão de território, um limite, uma região ou fronteira de circunscrição judicial ou eclesiástica, com um corregedor residente na cidade ou vila que é cabeça de comarca. Portanto, a Comarca da Feira, na Província da Beira, criada entre 1610 e 1623 e extinta entre 1832 e 1835, que teria sido, segundo a documentação setecentista e oitocentista, uma das maiores de Portugal, tinha como sede a vila da Feira e abrangia uma área geográfica que tinha o seu início em Vila Nova de Gaia, junto ao rio Douro, e estendia-se para além da cidade de Aveiro, chegando a terras de Águeda.
No âmbito do nosso projeto de doutoramento propusemo-nos a trabalhar esta antiga circunscrição administrativa, no que respeita ao património artístico das suas igrejas paroquiais, compreendendo-a pouco antes da criação, durante a sua existência e após a extinção.
Incentivados a apresentar uma comunicação sobre as fachadas das igrejas paroquiais por nós trabalhadas, iremos abordar o tema compreendendo-o à luz das normativas conciliares, mais especificamente do Concílio de Trento, recorrendo às constituições sinodais e à tratadística.
Apesar da enorme dificuldade, sempre patente, na constituição de tipologias que nos ajudem a compreender este património, iremos a partir do elemento comum, torre sineira, definir algumas linhas condutoras nesta arquitetura ao longos dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, numa baliza cronológica que medeia entre o Concílio de Trento (1545-1563) e o Vaticano II (1962-1965).
No âmbito do nosso projeto de doutoramento propusemo-nos a trabalhar esta antiga circunscrição administrativa, no que respeita ao património artístico das suas igrejas paroquiais, compreendendo-a pouco antes da criação, durante a sua existência e após a extinção.
Incentivados a apresentar uma comunicação sobre as fachadas das igrejas paroquiais por nós trabalhadas, iremos abordar o tema compreendendo-o à luz das normativas conciliares, mais especificamente do Concílio de Trento, recorrendo às constituições sinodais e à tratadística.
Apesar da enorme dificuldade, sempre patente, na constituição de tipologias que nos ajudem a compreender este património, iremos a partir do elemento comum, torre sineira, definir algumas linhas condutoras nesta arquitetura ao longos dos séculos XVI, XVII, XVIII, XIX e XX, numa baliza cronológica que medeia entre o Concílio de Trento (1545-1563) e o Vaticano II (1962-1965).
Fachadas-retábulo na Arquitetura Religiosa de Entre Douro e Minho: Formas e Artistas
Manuel Joaquim Moreira da Rocha
Docente em História da Arte na FLUP | CITCEM
Docente em História da Arte na FLUP | CITCEM
No início século XVIII em Portugal, e segundo Raphael Bluteau, entendia-se que fachada era a “frontaria de hum edifício”. E segundo o mesmo autor, frontaria e frontispício tinham o mesmo significado na arquitetura.
Em fontes documentais dos séculos XVII e XVIII, fundamentais para o estudo da arquitetura portuguesa – na perspetiva do encomendante, do artista e da obra - o termo utilizado para a caracterização da fachada principal de um edifício é frontispício.
E Bluteau, numa definição simples e certiva, ainda para hoje, esclarece o entendimento, que ao seu tempo se tinha por frontispício:
“he a fachada ou face principal de hum grande edifício que se offrece aos olhos”.
Procurando a origem da palavra fachada, José Quintão, diz que tem origem no termo italiano faccia – “a cara do edifício”.
A relação entre fachada – arquitetura - e retábulo, foi feita por Robert Smith no ano de 1963, no seu estudo sobre A TALHA EM PORTUGAL, utilizando o termo fachada-retábulo para caracterizar uma tipologia de fachadas de edifícios religiosos, que, seguiam a mesma organização estrutural dos retábulos.
A partir daí o termo fachada-retábulo passou a ser utilizado em trabalhos científicos de provas académicas desenvolvidas em Portugal, Brasil e Espanha (Carlos Ruão, 1966; Lúcia Carvalho, 2004; António Góis, 2005; etc.) de História da Arquitetura.
Tipologicamente o que é uma fachada-retábulo? Quando surge? Como se desenvolve? Como se baliza, estilística e cronologicamente, uma fachada-retábulo na arquitetura portuguesa?
Em fontes documentais dos séculos XVII e XVIII, fundamentais para o estudo da arquitetura portuguesa – na perspetiva do encomendante, do artista e da obra - o termo utilizado para a caracterização da fachada principal de um edifício é frontispício.
E Bluteau, numa definição simples e certiva, ainda para hoje, esclarece o entendimento, que ao seu tempo se tinha por frontispício:
“he a fachada ou face principal de hum grande edifício que se offrece aos olhos”.
Procurando a origem da palavra fachada, José Quintão, diz que tem origem no termo italiano faccia – “a cara do edifício”.
A relação entre fachada – arquitetura - e retábulo, foi feita por Robert Smith no ano de 1963, no seu estudo sobre A TALHA EM PORTUGAL, utilizando o termo fachada-retábulo para caracterizar uma tipologia de fachadas de edifícios religiosos, que, seguiam a mesma organização estrutural dos retábulos.
A partir daí o termo fachada-retábulo passou a ser utilizado em trabalhos científicos de provas académicas desenvolvidas em Portugal, Brasil e Espanha (Carlos Ruão, 1966; Lúcia Carvalho, 2004; António Góis, 2005; etc.) de História da Arquitetura.
Tipologicamente o que é uma fachada-retábulo? Quando surge? Como se desenvolve? Como se baliza, estilística e cronologicamente, uma fachada-retábulo na arquitetura portuguesa?