6ª Jornada de História da Arquitetura | 2017
Mosteiros e Conventos. Formas de (e para) habitar.
programa_final1.pdf |
Textos de Apoio
Oración y Secreto. Aproximación a la concepción espacial de la chirola en Galicia
Juan Manuel Monterroso Montero
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
La chirola es una de las partes más enigmáticas de las fábricas cistercienses. En el caso gallego, su presencia se ha detectado en monasterios tan significativos como Santa María de Monfero, Santa María de Oia, Santa María de Montederramo y Santa María de Meira.
Cada uno de esos enclaves tiene su personalidad propia y singular, siendo su función precisa una cuestión que ha sido debatida en multitud de ocasiones. En esta ocasión, tomando como punto de partida la singular arquitectura y decoración de Santa María de Meira se pretende dar una lectura simbólica a este tipo de espacios.
Cada uno de esos enclaves tiene su personalidad propia y singular, siendo su función precisa una cuestión que ha sido debatida en multitud de ocasiones. En esta ocasión, tomando como punto de partida la singular arquitectura y decoración de Santa María de Meira se pretende dar una lectura simbólica a este tipo de espacios.
Palimpsestos Arquiteturais
José César Vasconcelos Quintão
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Palimpsesto: παλίμψηστος - "palímpsêstos", "aquilo que se raspa para escrever de novo", πάλιν, "de novo" e ψάω, "arranhar, raspar"1, designa um pergaminho ou papiro cujo texto foi eliminado para permitir a reutilização. Por vezes, também acontece que ao se rasparem, para se conseguir escrever de novo, consegue-se avivar os primeiros caracteres.
Estabelecer um paralelo entre uma linguagem, propriamente dita, e outra linguagem não verbal é sempre um risco que se corre, apesar de tentador, ou porque os consensos não são iguais, entre emissor e recetor, ou porque o comunicador não conseguiu atingir os objetivos desejados. Sobre a relação entre a linguagem arquitetural e/ou arquitetónica e a linguagem verbal muito se tem analisado e escrito. Como arquiteto, de formação, não tenho dúvidas que, por vezes, o estabelecimento desse paralelismo é não só possível como auxiliador tanto para quem transmite, como para quem recebe a comunicação. Para o comunicador, o paralelismo coadjuva no sentido da mensagem arquitetónica, esta nem sempre tão significativa da expressividade que se quer transmitir; para o recetor, essa analogia pode descomplicar a perceção das características espaciais e o que elas pretendem ofertar, através do seu significado.
E o que poderão os palimpsestos dizer-nos sobre as obras de arquitetura que se vão apresentar? Logo à partida, une-as o facto de terem escrito já um historial conventual e eclesiástico. Hoje, une-as ou o mesmo destino, no caso de algumas igrejas, ou um destino civil, depois de dessacralizadas; no tocante aos espaços monásticos e conventuais, une-os um destino paralelo como no caso da hospedagem, que também teriam os mosteiros e conventos e, nestes edifícios, também outras ocupações civis.
A reutilização, a recuperação, a reconversão ou outras ÃOS não são mais do que escrita nova e apelativa sobre escrita antiga. Quase que diria o emprego de neologismos substituindo arcaísmos ou mesmo, em última análise, palavras caídas em desuso. No entanto, os exemplos constantes desta mostra expõem o respeito profundo pela “escrita antiga”!
Estabelecer um paralelo entre uma linguagem, propriamente dita, e outra linguagem não verbal é sempre um risco que se corre, apesar de tentador, ou porque os consensos não são iguais, entre emissor e recetor, ou porque o comunicador não conseguiu atingir os objetivos desejados. Sobre a relação entre a linguagem arquitetural e/ou arquitetónica e a linguagem verbal muito se tem analisado e escrito. Como arquiteto, de formação, não tenho dúvidas que, por vezes, o estabelecimento desse paralelismo é não só possível como auxiliador tanto para quem transmite, como para quem recebe a comunicação. Para o comunicador, o paralelismo coadjuva no sentido da mensagem arquitetónica, esta nem sempre tão significativa da expressividade que se quer transmitir; para o recetor, essa analogia pode descomplicar a perceção das características espaciais e o que elas pretendem ofertar, através do seu significado.
E o que poderão os palimpsestos dizer-nos sobre as obras de arquitetura que se vão apresentar? Logo à partida, une-as o facto de terem escrito já um historial conventual e eclesiástico. Hoje, une-as ou o mesmo destino, no caso de algumas igrejas, ou um destino civil, depois de dessacralizadas; no tocante aos espaços monásticos e conventuais, une-os um destino paralelo como no caso da hospedagem, que também teriam os mosteiros e conventos e, nestes edifícios, também outras ocupações civis.
A reutilização, a recuperação, a reconversão ou outras ÃOS não são mais do que escrita nova e apelativa sobre escrita antiga. Quase que diria o emprego de neologismos substituindo arcaísmos ou mesmo, em última análise, palavras caídas em desuso. No entanto, os exemplos constantes desta mostra expõem o respeito profundo pela “escrita antiga”!
Do comprometimento dos espaços de habitar monásticos: românico e restauro sob o Estado Novo
Maria Leonor César Machado de Sousa Botelho
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Durante o Estado Novo (1926-1974), regime nacionalista por excelência, deu-se especial atenção aos monumentos identificados com acontecimentos triunfantes e personagens marcantes para a história Pátria, os “monumentos da Nação”. A partir de 1929 coube à extinta Direção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), a responsabilidade de encetar a restauração do património histórico e artístico da Nação. De um modo geral, e aproximadamente até meados do século XX, a Idade Média, enquanto período histórico, gozou então de especial preferência, reflexo de uma alegadamente perfeita união entre o poder e a Fé e de uma perfeita sociedade tripartida. E de entre os Monumentos construídos neste tempo que se considerava “perfeito”, conheceram particular destaque aqueles que a historiografia tinha por edificados ao tempo da formação da nacionalidade, ou seja, os edifícios românicos. Sendo o seu estado primitivo aquele que é considerado como o mais puro, porque seu originário e coetâneo do período que se pretende exaltar, procura-se constantemente regressar a esse mesmo estado através da supressão dos elementos que ao longo dos tempos foram transformando a sua legibilidade. Na maior parte dos casos, dada a impossibilidade de alcançar o ideal de uma totalidade primitiva, a unidade estilística deve ser antes entendida como uniformidade, tanto mais que prevalece uma primazia dos valores históricos sobre os valores artísticos. Algumas estruturas monásticas viram, assim, comprometidas as suas casas de habitar em prol de uma outra legibilidade que se quis dar à sua igreja, acentuando assim o seu valor histórico. Conjuntos monásticos como o de Paço de Sousa (Penafiel), Salvador de Travanca (Amarante) ou Cárquere (Resende), entre outros, assumiram uma outra fácies, criando a partir de então uma nova memória, materializada num outro entendimento dos primitivos conjuntos monásticos.
O Lugar no Habitar Conventual ou a Fortuna dos Conventos: Ramos Franciscanos na Cidade do Porto e Destino Após a Extinção
Maria José Casanova
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Hoje, quando percorremos as cidades, atentos ao que as caracteriza e interessados em desvendar o que as moldou, a presença e as marcas das ordens religiosas surgem-nos sob diversas formas, impondo-se ainda, cerca de dois séculos após a sua extinção, como persistências incontornáveis. No contexto Europeu, o desenvolvimento de vilas e cidades passa, a partir da Idade Média, em grande parte pela presença das ordens religiosas, influenciando-lhes a vida cultural e configurando-lhes a forma e a imagem. Assim, pensar o habitar monástico-conventual é também refletir sobre a cidade, colocando-nos perante os múltiplos contributos destas estruturas para a formação e transformação do espaço urbano de tantas cidades europeias.
Na cidade do Porto, cidade burguesa de origem episcopal e vocação mercantil, bastará enumerar os seus múltiplos cenóbios e, sobretudo, cartografá-los, para compreender quanto da cidade decorre do modo como a habitaram.
O conjunto de casas que integravam a malha e o tecido da cidade permitem ler, quanto à sua situação, grupos diversos de "unidades de paisagem”, lugares onde é possível detetar características comuns e que poderão ser (re)agrupados segundo diferentes categorias: do ponto de vista ‘topológico’, por deteção de relações de proximidade; do ponto de vista ‘morfológico’, pela identificação de fenómenos de atração em relação a elementos fundamentais da morfologia urbana: o traçado da muralha gótica, a localização das suas portas e o sistema de espaços públicos existente; ou ainda, do ponto de vista ‘geográfico’, confirmando que nas estratégias de implantação destas casas, as componentes topográficas e hidrográficas constituíram importantes parâmetros de eleição.
Os lugares que ocupam e a relação com o contexto espacial envolvente, podem ser lidos como indicadores singulares das dissemelhanças existentes dentro do vasto universo das ordens regulares ou como reveladores da(s) cronologia(s) de fundação urbana, exteriorizando as dimensões internas das próprias ordens e os quadros mentais de cada época, expondo-os como agentes influenciadores no processo de construção de uma geografia.
Olhar a história destas estruturas é também reinterpretar a cidade que se constrói, se renova, se transforma ou, depois de 1834 e da secularização, interpretar a cidade que se reinventa, se reconfigura e redesenha, rasgando, demolindo, substituindo, apropriando, ocupando.
Partindo do caso dos conventos que na cidade do Porto representavam os diferentes ramos do universo franciscano, pretende-se, nesta comunicação, sublinhar a relação estabelecida entre os desígnios fundacionais
que orientaram a localização de cada casa na cidade e o destino das estruturas conventuais desamortizadas. Tecendo laços que ligam: origens da ordem religiosa, opções de vida e variantes dos programas espirituais dos diversos ramos; momento(s) de fundação e estabelecimento na cidade e lugar ocupado por essas mesmas casas na estrutura geral da morfologia urbana; e, interpretando o significado do enquadramento urbano em épocas distintas – antes e após a extinção –, reflete-se sobre o impacto da secularização no desenvolvimento da cidade e especialmente sobre o papel do “sítio” de implantação de cada casa como lugar de significantes diversos mas também como fator histórico e patrimonial.
Compreender a longa duração destas estruturas através da complexidade das relações estabelecidas com a cidade em diferentes tempos e lugares, mesmo se demolidos, permite-nos interrogar a sua permanência enquanto agentes ativos de transformação capazes de interligar as potencialidades inscritas na sua génese com a forma atual da cidade.
Na cidade do Porto, cidade burguesa de origem episcopal e vocação mercantil, bastará enumerar os seus múltiplos cenóbios e, sobretudo, cartografá-los, para compreender quanto da cidade decorre do modo como a habitaram.
O conjunto de casas que integravam a malha e o tecido da cidade permitem ler, quanto à sua situação, grupos diversos de "unidades de paisagem”, lugares onde é possível detetar características comuns e que poderão ser (re)agrupados segundo diferentes categorias: do ponto de vista ‘topológico’, por deteção de relações de proximidade; do ponto de vista ‘morfológico’, pela identificação de fenómenos de atração em relação a elementos fundamentais da morfologia urbana: o traçado da muralha gótica, a localização das suas portas e o sistema de espaços públicos existente; ou ainda, do ponto de vista ‘geográfico’, confirmando que nas estratégias de implantação destas casas, as componentes topográficas e hidrográficas constituíram importantes parâmetros de eleição.
Os lugares que ocupam e a relação com o contexto espacial envolvente, podem ser lidos como indicadores singulares das dissemelhanças existentes dentro do vasto universo das ordens regulares ou como reveladores da(s) cronologia(s) de fundação urbana, exteriorizando as dimensões internas das próprias ordens e os quadros mentais de cada época, expondo-os como agentes influenciadores no processo de construção de uma geografia.
Olhar a história destas estruturas é também reinterpretar a cidade que se constrói, se renova, se transforma ou, depois de 1834 e da secularização, interpretar a cidade que se reinventa, se reconfigura e redesenha, rasgando, demolindo, substituindo, apropriando, ocupando.
Partindo do caso dos conventos que na cidade do Porto representavam os diferentes ramos do universo franciscano, pretende-se, nesta comunicação, sublinhar a relação estabelecida entre os desígnios fundacionais
que orientaram a localização de cada casa na cidade e o destino das estruturas conventuais desamortizadas. Tecendo laços que ligam: origens da ordem religiosa, opções de vida e variantes dos programas espirituais dos diversos ramos; momento(s) de fundação e estabelecimento na cidade e lugar ocupado por essas mesmas casas na estrutura geral da morfologia urbana; e, interpretando o significado do enquadramento urbano em épocas distintas – antes e após a extinção –, reflete-se sobre o impacto da secularização no desenvolvimento da cidade e especialmente sobre o papel do “sítio” de implantação de cada casa como lugar de significantes diversos mas também como fator histórico e patrimonial.
Compreender a longa duração destas estruturas através da complexidade das relações estabelecidas com a cidade em diferentes tempos e lugares, mesmo se demolidos, permite-nos interrogar a sua permanência enquanto agentes ativos de transformação capazes de interligar as potencialidades inscritas na sua génese com a forma atual da cidade.
El Cinturón de Incienso: Arquitectura Religiosa en Salamanca en el Siglo XX
Sara Núñez Izquierdo
Universidad de Salamanca
Universidad de Salamanca
A lo largo del siglo XX la ciudad de Salamanca experimento un crecimiento constante debido a su condición como capital de provincia de actividad agraria y por el papel desempeñado por la capital de provincia de actividad agraria y por el papel desempeñado por la Universidad de Salamanca en el devenir de esta localidade. Así las cosas, durante esa centúria la capital charra fue ampliando su extensión fuera de las murallas que hasta la segunda década de 1900 la habían encorsetado. Esta expansión la convirtió en un atractivo para el establecimiento de numerosas órdenes religiosas que, por sus necessidades de espacio, se instalaron en áreas alejadas del centro de la ciudad, y rapidamente quedaron integradas en el ensanche de la ciudad. De este modo, en esta comunicación estudiaremos la variada tipología de inmuebles que se levantaron durante esse período y analizaremos algunos de los ejemplos más significativos.
A retórica das artes nos conventos femininos na Arquidiocese de Braga e o mecenato de D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728)
Manuel Joaquim Moreira da Rocha
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
D. Rodrigo de Moura Teles enquanto arcebispo de Braga manifestou grande atenção às instituições monásticas e conventuais femininas, como se afere pelas inúmeras visitas que pessoalmente realizou a todas as casas monásticas da Arquidiocese.
Como expressão do seu pontificado, ficou a reforma e renovação das casas conventuais existentes e a fundação de quatro novas unidades conventuais femininas. Deve-se acrescentar ainda a fundação do Recolhimento para Mulheres na cidade de Braga, cuja construção financiou.
O convento do Terço seguiu a regra beneditina, enquanto as restantes unidades fundadas se ergueram sob a proteção de S. Francisco de Assis.
Como expressão do seu pontificado, ficou a reforma e renovação das casas conventuais existentes e a fundação de quatro novas unidades conventuais femininas. Deve-se acrescentar ainda a fundação do Recolhimento para Mulheres na cidade de Braga, cuja construção financiou.
O convento do Terço seguiu a regra beneditina, enquanto as restantes unidades fundadas se ergueram sob a proteção de S. Francisco de Assis.
Os conventos franciscanos insulares: Santa Clara do Funchal
Rui Carita
Universidade da Madeira
Universidade da Madeira
A História das Ilhas e da Expansão Ibérica na Época Moderna encontra-se profundamente ligada à comunidade franciscana, aventureira e constituída por “andarilhos de todos caminhos”, como se escreveu, tendo acompanhado, quase sempre as primeiras viagens dos descobrimentos e logo se instalando. Assim aconteceu nas Canárias, na Madeira, nos Açores, em Cabo Verde, etc. Nessa sequência e ultrapassada a inicial fase de instalação precária dos iniciais povoadores, com os franciscanos a habitarem pequenos cenóbios, surgem os primeiros conventos masculinos e, depois, os femininos. O convento de Santa Clara do Funchal foi o primeiro convento feminino da Madeira, tendo sido fundado pelo 2º capitão donatário do Funchal e o apoio do duque D. Manuel, depois rei D. Manuel I. O convento foi autorizado por bula de 1476, que concedia o padroado à família Câmara, tendo sido escolhida para área de instalação a da capela da Conceição onde tinham estabelecido o seu panteão, ficando o cargo de abadessa durante muitos anos nos elementos dessa família. O convento estava pronto pouco depois de 1495, sendo ocupado no Natal de 1497. A comunidade foi constituída inicialmente para um número reduzido de freiras, que foi aumentando, chegando aos fins do século XVI com mais de cem religiosas e, depois a quase duzentas no seguinte, com um importante acervo de propriedades, que o transformaram numa verdadeira empresa agrícola e comercial, emprestando dinheiro a juros e com cartório próprio. O convento de Santa Clara ainda é ocupado por religiosas franciscanas, numa quase continuidade de mais de 500 anos, tendo-se sabido adaptar a novas funções e realidades, preservando um dos mais importantes espólios religiosos e artísticos da Região.
Célula e conjunto, privado e público, função e expressão: a arquitetura cenobítica crúzia entre o Renascimento e o Maneirismo
Ilídio Jorge Silva
Universidade Fernando Pessoa
Universidade Fernando Pessoa
Em 1527, D. João III dava início a uma reforma do mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, que foi conduzida por Frei Brás de Braga (ou de Barros), religioso da igualmente augustiniana Ordem de São Jerónimo, desde essa data até 1554. Por 1530 o rei associa essa intervenção à renovação e transferência da Universidade, de Lisboa para Coimbra, para ter sede no mosteiro crúzio, o que acontecerá até 1537. Adicionalmente, a partir de 1535, pelo menos, a reforma da canónica conimbricense começa a estender-se a toda a Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho portugueses.
Juntando uma reforma espiritual, inspirada no recolhimento meditativo da devotio moderna, a uma reanimação cultural nos moldes da docta pietas, Santa Cruz é o espelho e instrumento do projeto possível de um Portugal renascentista, em reforma erasmista.
Entre 1528 e 1540, o complexo Regrante duplicará de área, para se adequar à sua nova forma de vida, e servirá de modelo à definição da arquitetura colegial, que conduzirá desde 1535, e aos cenóbios reformados por Fr. Brás, na construção de raiz de São Salvador da Serra do Pilar (iniciada em 1537) e nas reformulações de São Vicente de Fora (em 1538, 1540-1541, e 1553-1554).
Quando a Congregação de Santa Cruz é formalmente instituída pela Santa Sé, em 1556, já o panorama é outro. O projeto joanino muda, os Cónegos deixam de estar no seu cerne e no favor do monarca: a Universidade tornara-se autónoma em 1543, e é financiada com bens retirados à Ordem (como o serão os bispados de Leiria e Portalegre, criados em 1545 e 1549); por outro lado, desde 1545 que o programa da Contrarreforma, rigorista e tradicionalista, está em definição em Trento.
O foco central da instituição canonical passa a ser portanto a sua própria expansão – 16 membros se acrescentarão às suas fileiras, até 1624 – e essa afirmação não pode deixar de se exprimir segundo as coordenadas tridentinas.
O protótipo arquitetónico dessa identidade revista é São Salvador de Grijó, desenhado em 1572 e edificado até meados de Seiscentos. Replicado, por vezes quase literalmente, em outras 9 Casas, Grijó representa a imagem de marca maneirista da Ordem. Compacto, introvertido e rural, onde Santa Cruz de Coimbra fora expansivo e urbano, borromaico onde aquele era bramantino, o novo modelo é uma redução ao "mosteiro essencial", mas também à "essência crúzia", recuperando um corpo turriforme na fachada eclesial (como Santa Cruz), reutilizando o claustro de arquitrave plana (que deveria ter sido previsto para a Serra do Pilar).
O que escapa muitas vezes à análise historiográfica é como o desenho das celas e a composição dos dormitórios, nestas duas matrizes, espelham as definições dos que habitam no seu interior e permitem a imagem exterior dos conjuntos que constroem. O dormitório renascentista longo e unitário, aberto à paisagem, afirma o indivíduo e a individualidade, e forma longos alçados viários animados por fenestração diferenciada; o seu equivalente maneirista, centrípeto ao claustro e de face mais repetitiva, sublinha a conformidade e exprime monoliticamente a instituição. Cumulativamente, a primeira configuração assenta na cela larga, que alonga a fachada, e na dicotomia entre a janela e o postigo, traduções do cónego que tanto contempla o mundo como se recolhe para meditar e estudar; já a segunda compacta o volume recorrendo à cela profunda (mesmo que não menor), e resume a expressão de cada espaço/ocupante a um só vão, simples e iterativo.
Juntando uma reforma espiritual, inspirada no recolhimento meditativo da devotio moderna, a uma reanimação cultural nos moldes da docta pietas, Santa Cruz é o espelho e instrumento do projeto possível de um Portugal renascentista, em reforma erasmista.
Entre 1528 e 1540, o complexo Regrante duplicará de área, para se adequar à sua nova forma de vida, e servirá de modelo à definição da arquitetura colegial, que conduzirá desde 1535, e aos cenóbios reformados por Fr. Brás, na construção de raiz de São Salvador da Serra do Pilar (iniciada em 1537) e nas reformulações de São Vicente de Fora (em 1538, 1540-1541, e 1553-1554).
Quando a Congregação de Santa Cruz é formalmente instituída pela Santa Sé, em 1556, já o panorama é outro. O projeto joanino muda, os Cónegos deixam de estar no seu cerne e no favor do monarca: a Universidade tornara-se autónoma em 1543, e é financiada com bens retirados à Ordem (como o serão os bispados de Leiria e Portalegre, criados em 1545 e 1549); por outro lado, desde 1545 que o programa da Contrarreforma, rigorista e tradicionalista, está em definição em Trento.
O foco central da instituição canonical passa a ser portanto a sua própria expansão – 16 membros se acrescentarão às suas fileiras, até 1624 – e essa afirmação não pode deixar de se exprimir segundo as coordenadas tridentinas.
O protótipo arquitetónico dessa identidade revista é São Salvador de Grijó, desenhado em 1572 e edificado até meados de Seiscentos. Replicado, por vezes quase literalmente, em outras 9 Casas, Grijó representa a imagem de marca maneirista da Ordem. Compacto, introvertido e rural, onde Santa Cruz de Coimbra fora expansivo e urbano, borromaico onde aquele era bramantino, o novo modelo é uma redução ao "mosteiro essencial", mas também à "essência crúzia", recuperando um corpo turriforme na fachada eclesial (como Santa Cruz), reutilizando o claustro de arquitrave plana (que deveria ter sido previsto para a Serra do Pilar).
O que escapa muitas vezes à análise historiográfica é como o desenho das celas e a composição dos dormitórios, nestas duas matrizes, espelham as definições dos que habitam no seu interior e permitem a imagem exterior dos conjuntos que constroem. O dormitório renascentista longo e unitário, aberto à paisagem, afirma o indivíduo e a individualidade, e forma longos alçados viários animados por fenestração diferenciada; o seu equivalente maneirista, centrípeto ao claustro e de face mais repetitiva, sublinha a conformidade e exprime monoliticamente a instituição. Cumulativamente, a primeira configuração assenta na cela larga, que alonga a fachada, e na dicotomia entre a janela e o postigo, traduções do cónego que tanto contempla o mundo como se recolhe para meditar e estudar; já a segunda compacta o volume recorrendo à cela profunda (mesmo que não menor), e resume a expressão de cada espaço/ocupante a um só vão, simples e iterativo.
Espaços Públicos e Privados numa Comunidade de Cónegos Regrantes de Santo Agostinho. O Caso do Mosteiro de Grijó
Celso Francisco dos Santos
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Faculdade de Letras da Universidade do Porto
O Mosteiro de S. Salvador de Grijó da Ordem de Santo Agostinho fazia parte da Congregação dos Cónegos Regrantes, com sede no Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra.
Com fundação anterior ao Reino de Portugal, regista-se na história da instituição monástica de Grijó transferências de local da comunidade monástica primitiva. Apesar da comunidade se ter transferido no século XVI de Grijó para o Monte de Quebrantões, onde se encontra hoje o Mosteiro da Serra do Pilar, a comunidade monástica voltaria para Grijó, para proceder a uma renovação total do velho espaço monástico cuja construção se desenvolveu durante o século XVII.
A comunidade permaneceu em Grijó até ao ano de 1770, ano em que o Mosteiro e os bens foram integrados no Real Convento de Mafra.
No decurso das guerras napoleónicas parte das dependências do mosteiro foram ocupadas por um regimento militar; depois da Lei de extinção das Ordens Religiosas e venda do património monástico em hasta pública, tornou-se num lugar de “memória” a partir do qual Júlio Dinis, escreveu a Morgadinha dos Canaviais.
O complexo monástico era formado por um conjunto alargado de espaços construídos, dos quais fazia parte a cerca. A cerca era um espaço de produção e de recriação: ao lado das hortas e do jardim das ervas medicinais, praticavam-se atividades de lazer.
A comunidade monástica formava um todo orgânico. Apesar de tudo, havia restrições de acesso aos vários espaços do mosteiro, condicionados pelo papel religioso e social desempenhado no quotidiano comunitário.
Esta unidade orgânica não era aberta a todos os membros, nem todos os espaços eram de circulação livre: o acesso ao terreiro da igreja e até à própria igreja, à hospedaria, ao claustro, aos dormitórios dos cónegos e ao dos noviços, aos jardins, às hortas, estava regulado.
Cónegos, noviços, criados e comuns tinham acessos diferenciados, tanto pelo lugar que ocupavam na comunidade religiosa como pelas diferentes horas e decurso do trabalho ao longo do dia.
As necessidades do culto quotidiano e o das festas litúrgicas, em que também participava a comunidade de fiéis – normalmente circunscrita à igreja paroquial, regulava os espaços públicos e os espaços privados da comunidade do Mosteiro de S. Salvador de Grijó.
Com fundação anterior ao Reino de Portugal, regista-se na história da instituição monástica de Grijó transferências de local da comunidade monástica primitiva. Apesar da comunidade se ter transferido no século XVI de Grijó para o Monte de Quebrantões, onde se encontra hoje o Mosteiro da Serra do Pilar, a comunidade monástica voltaria para Grijó, para proceder a uma renovação total do velho espaço monástico cuja construção se desenvolveu durante o século XVII.
A comunidade permaneceu em Grijó até ao ano de 1770, ano em que o Mosteiro e os bens foram integrados no Real Convento de Mafra.
No decurso das guerras napoleónicas parte das dependências do mosteiro foram ocupadas por um regimento militar; depois da Lei de extinção das Ordens Religiosas e venda do património monástico em hasta pública, tornou-se num lugar de “memória” a partir do qual Júlio Dinis, escreveu a Morgadinha dos Canaviais.
O complexo monástico era formado por um conjunto alargado de espaços construídos, dos quais fazia parte a cerca. A cerca era um espaço de produção e de recriação: ao lado das hortas e do jardim das ervas medicinais, praticavam-se atividades de lazer.
A comunidade monástica formava um todo orgânico. Apesar de tudo, havia restrições de acesso aos vários espaços do mosteiro, condicionados pelo papel religioso e social desempenhado no quotidiano comunitário.
Esta unidade orgânica não era aberta a todos os membros, nem todos os espaços eram de circulação livre: o acesso ao terreiro da igreja e até à própria igreja, à hospedaria, ao claustro, aos dormitórios dos cónegos e ao dos noviços, aos jardins, às hortas, estava regulado.
Cónegos, noviços, criados e comuns tinham acessos diferenciados, tanto pelo lugar que ocupavam na comunidade religiosa como pelas diferentes horas e decurso do trabalho ao longo do dia.
As necessidades do culto quotidiano e o das festas litúrgicas, em que também participava a comunidade de fiéis – normalmente circunscrita à igreja paroquial, regulava os espaços públicos e os espaços privados da comunidade do Mosteiro de S. Salvador de Grijó.
Os Conventos Femininos de Guimarães nos Séculos XVII e XVIII. Mecenas, Obras e Artistas
António José de Oliveira
CITCEM
CITCEM
A partir dos finais do século XVI, a Colegiada constituíra-se como o principal poder do concelho, ocupando o lugar que fora até aí da corte bragantina. Até finais do século XVII, ela será o pólo dinamizador de Guimarães, mas rapidamente os conventos femininos da vila, competem com a Colegiada de Nossa Senhora da Oliveira. Nos domínios da arquitetura e das artes decorativas, estas instituições desempenham um papel fundamental. Nesse âmbito, são chamados a Guimarães conceituados artistas, oriundos dos atuais concelhos de Braga, Fafe, Matosinhos, Porto, Santo Tirso, Vila Nova de Famalicão, Vila do Conde, e do reino da Galiza, com os quais penetraram na vila novos discursos artísticos
Determinante para a remodelação arquitetónica e na obra de talha de conventos femininos de Guimarães, foi a figura de D. José de Bragança (arcebispo de Braga entre 1741-1756), que patrocinou importantes obras. D. José de Bragança, filho ilegítimo do rei D. Pedro II, foi uma personalidade marcante no panorama eclesiástico e artístico do seu tempo, exercendo um vasto papel mecenático na sua diocese, particularmente em Guimarães. O seu carácter empreendedor revela-se pelo apoio concedido à atividade artística, através do mecenato ou da encomenda, mas também pela sua intervenção direta e ativa no processo criativo, convertendo-se em agente da modernidade estética. Responsável por empreendimentos no panorama artístico vimaranense, e na construção de um importante legado patrimonial que ainda hoje se mantém na cidade de Guimarães, foi uma figura consciente da importância pastoral que os meios visuais assumem no melhoramento da sua diocese, igrejas e conventos.
O levantamento exaustivo dos contratos de obra nos quatro conventos femininos de Guimarães (Santa Clara, Carmo, Santa Rosa de Lima e Madre de Deus) permitiu-nos a datação da maior parte dos espécimes artísticos ainda hoje existentes; a identificação de quem encomendou e financiou a obra; o pedreiro, o carpinteiro, o entalhador, dourador, pintor, imaginário, o organeiro, entre outros, responsáveis pela sua execução; qual o local da sua origem e residência; os fiadores; as alterações levadas a termo no seio destes imóveis; o custo da obra, entre muitas outras coisas, como sejam os materiais utilizados na execução das mesmas.
Todas estas instituições conventuais femininas favoreceram que, em Guimarães e no seu termo surgissem várias oficinas com uma intensa atividade num meio em constante animação. Neste contexto, a documentação aponta ainda, para o afluxo de destacados mestres do noroeste de Portugal e da Galiza, para a arrematação e concretização das empreitadas, facto que lhes permitia manter em laboração as suas oficinas. Além disso, é necessário ter presente que muitos destes artistas arrematavam as empreitadas em sociedade, originando assim que muitas dessas obras existentes em Guimarães fossem o resultado de um complexo trabalho de parceria entre mestres do mesmo ofício. Estas obras, por vezes executadas em parcerias com mestres vimaranenses, permitiram às oficinas locais um contacto com a obra de outros mestres e oficiais. Simultaneamente entre os artistas criavam-se estreitas redes de solidariedade relativas a sociedades e parcerias, fianças e ligações familiares.
Determinante para a remodelação arquitetónica e na obra de talha de conventos femininos de Guimarães, foi a figura de D. José de Bragança (arcebispo de Braga entre 1741-1756), que patrocinou importantes obras. D. José de Bragança, filho ilegítimo do rei D. Pedro II, foi uma personalidade marcante no panorama eclesiástico e artístico do seu tempo, exercendo um vasto papel mecenático na sua diocese, particularmente em Guimarães. O seu carácter empreendedor revela-se pelo apoio concedido à atividade artística, através do mecenato ou da encomenda, mas também pela sua intervenção direta e ativa no processo criativo, convertendo-se em agente da modernidade estética. Responsável por empreendimentos no panorama artístico vimaranense, e na construção de um importante legado patrimonial que ainda hoje se mantém na cidade de Guimarães, foi uma figura consciente da importância pastoral que os meios visuais assumem no melhoramento da sua diocese, igrejas e conventos.
O levantamento exaustivo dos contratos de obra nos quatro conventos femininos de Guimarães (Santa Clara, Carmo, Santa Rosa de Lima e Madre de Deus) permitiu-nos a datação da maior parte dos espécimes artísticos ainda hoje existentes; a identificação de quem encomendou e financiou a obra; o pedreiro, o carpinteiro, o entalhador, dourador, pintor, imaginário, o organeiro, entre outros, responsáveis pela sua execução; qual o local da sua origem e residência; os fiadores; as alterações levadas a termo no seio destes imóveis; o custo da obra, entre muitas outras coisas, como sejam os materiais utilizados na execução das mesmas.
Todas estas instituições conventuais femininas favoreceram que, em Guimarães e no seu termo surgissem várias oficinas com uma intensa atividade num meio em constante animação. Neste contexto, a documentação aponta ainda, para o afluxo de destacados mestres do noroeste de Portugal e da Galiza, para a arrematação e concretização das empreitadas, facto que lhes permitia manter em laboração as suas oficinas. Além disso, é necessário ter presente que muitos destes artistas arrematavam as empreitadas em sociedade, originando assim que muitas dessas obras existentes em Guimarães fossem o resultado de um complexo trabalho de parceria entre mestres do mesmo ofício. Estas obras, por vezes executadas em parcerias com mestres vimaranenses, permitiram às oficinas locais um contacto com a obra de outros mestres e oficiais. Simultaneamente entre os artistas criavam-se estreitas redes de solidariedade relativas a sociedades e parcerias, fianças e ligações familiares.
Duas Comunidades Beneditinas Femininas em Viana do Castelo: Duas Interpretações Artísticas
Isabel Maria Ribeiro Tavares de Pinho
Doutora pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Doutora pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
O século XVI, o alto renascimento europeu nos planos culturais e artísticos, foi em Portugal um período de desenvolvimento administrativo/político e socioeconómico. O país estava muito mais sensível aos aspetos financeiros e aos seus benefícios, deixando as artes e as letras para pequenas bolsas de eruditos. Isto tornava-se evidente à medida que nos afastássemos da capital e das cidades de influência mecenática. O conservadorismo, sobretudo na arquitetura, manteve-se na memória, combinando temas glorificantes do então mundo português. Uma nova burguesia mercantil emergia e derrubou as velhas estruturas medievais. É no plano urbanístico e devido a esta nova era que se começa a sentir a viragem renascentista. Iriam ser as cidades portuárias as primeiras a sentir as consequências dos novos conceitos económicos. As zonas ribeirinhas pulsavam com novas energias e coloriram-se de mercadorias, gentes e línguas, modificando inevitavelmente as fisionomias das cidades que lhes serviam de cenário. Em resposta as áreas urbanas cresceram para além da cintura medieval.Viana do Castelo, geograficamente muito a norte e num tempo em que as vias de comunicação para o interior não tinham significado, voltou-se naturalmente para o Atlântico, criando ligações privilegiadas de comércio com o exterior. Para sul, ao longo da costa não iria além de Aveiro e foi especialmente com a Europa que estabeleceu muito cedo laços comerciais marcantes. À medida que os conhecimentos de marinhagem evoluíram, foi avançando mais para o norte europeu. A arte de navegar trouxe a Viana uma outra compensação, a construção naval, de que a cidade se orgulhou durante décadas, apesar do seu porto duplamente perigoso. Se por um lado dificultava a circulação naval, sobretudo a acostagem, requerendo especialistas, por outro, auxiliava na defesa contra a pirataria muito ativa por razões óbvias. Devido a uma barra cheia de escolhos, provocando correntes mortais, as mercadorias de toda a sorte tinham de ser transferidas fora do porto. Apesar das tentativas de melhoria nas condições de acesso e de defesa, que não surtiram grandes efeitos, os vianenses continuaram preferencialmente voltados para as atividades marítimas, acrescentando o comércio com as ilhas Atlânticas e depois o Brasil. O comércio com as Índias orientais teve pouca expressão como se compreende pela geografia. As sucessivas fases financeiras tiveram naturalmente reflexo na vida social espelhada na forma de viver e de o demonstrar.
Aquela explosão mercantil abriu uma imensa brecha na sociedade. A estrutura social a norte de Portugal era essencialmente dominada por uma nobreza rural que não primava pela cultura, salvo raríssimas exceções, mas se orgulhava dos nomes que entroncavam nas velhas cepas condais e nas terras que, não sendo latifúndios, eram demonstração de poder. Agora teriam de lutar com aquela burguesia, por um lugar na nova ordem socioeconómica. Paralelamente os princípios medievais da família são mantidos ferozmente, eles reveladores do estatuto que se quer manter ou aceder. É neste cenário que surgem no novo espaço urbano de Viana do Castelo dois mosteiros da mesma Ordem, beneditina, ambos femininos. Caso raro. Não se tratando especialmente de uma devoção, até porque a Ordem de S. Bento estava em declínio, mas de desafio e rivalidade. As ambições terrenas trouxeram, no entanto, funestas consequências para um deles e não para os que ansiosamente que se queriam cobrir de prestígio, mas para as que, sem alternativa, arcaram com a obrigação de ali se manterem.
Aquela explosão mercantil abriu uma imensa brecha na sociedade. A estrutura social a norte de Portugal era essencialmente dominada por uma nobreza rural que não primava pela cultura, salvo raríssimas exceções, mas se orgulhava dos nomes que entroncavam nas velhas cepas condais e nas terras que, não sendo latifúndios, eram demonstração de poder. Agora teriam de lutar com aquela burguesia, por um lugar na nova ordem socioeconómica. Paralelamente os princípios medievais da família são mantidos ferozmente, eles reveladores do estatuto que se quer manter ou aceder. É neste cenário que surgem no novo espaço urbano de Viana do Castelo dois mosteiros da mesma Ordem, beneditina, ambos femininos. Caso raro. Não se tratando especialmente de uma devoção, até porque a Ordem de S. Bento estava em declínio, mas de desafio e rivalidade. As ambições terrenas trouxeram, no entanto, funestas consequências para um deles e não para os que ansiosamente que se queriam cobrir de prestígio, mas para as que, sem alternativa, arcaram com a obrigação de ali se manterem.
Uma Utopia Quinhentista no Mosteiro de S. Salvador da Serra: a Arquitetura como Pharmakon ao Serviço da Pré-Reforma
Susana Matos Abreu
CEAU | IF
CEAU | IF
O Mosteiro de S. Salvador da Serra, fundado em Vila Nova de Gaia em 1537, trata-se de um complexo edificado que traduz, de forma invulgar, algumas teorias da arquitetura do Renascimento que ecoavam ideias correntes em certos tratados de governação bastante divulgados na época. O objetivo disto seria o de garantir uma casa para os cónegos Regrante de Santo Agostinho que fosse adequada à reforma religiosa empreendida junto deles por Fr. Brás de Barros. Segundo o próprio reformador, as casas desta ordem deveriam espelhar os valores e costumes dos seus habitantes. Isto reflete-se no Mosteiro da Serra a dois níveis distintos: na provisão de espaços suficientes e adequados para que a regra monástica se pudesse cumprir; na criação de formas arquitetónicas que, por si mesmas, inspirassem nos seus residentes os valores da espiritualidade da reforma, reforçando-a. Este objetivo, os seus pressupostos teóricos, os meios utilizados e os seus resultados permitem considerar o Mosteiro de S. Salvador da Serra como uma utopia no sentido que lhe deu Françoise Choay – isto é, como pharmakon, ou remédio para sociedades doentes, em que se faz uso da arquitetura e dos espaços urbanos para simultaneamente impor a lei e estimular o seu respeito.
Los Monasterios Benedictinos en la Edad Moderna: Un Ejemplo Paradigmático de Arquitectura Funcional
Ana E. Goy Diz
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
En 1486, los reyes Isabel de Castilla y Fernando de Aragón visitan Galicia con la finalidad de rogar ante la tumba del Apóstol Santiago y pedir su intercesión para que les ayudara en la guerra de Granada y pudieran completar la Reconquista. Durante esta visita, los monarcas pusieron las bases de las reformas políticas, administrativas y religiosas que serían necesarias emprender en el reino para la consolidación del estado moderno. Entre ellas, estaba la del clero regular de acuerdo a los nuevos principios de la observancia. Los reyes contaron con el apoyo del papado, concretamente de Inocencio VIII que concedió la bula Quanta in Dei Eclessia (1487) por la que se ponían las bases de esta reforma.
El proceso de reorganización de los monasterios se prolongó durante décadas, pero tanto la Congregación de Castilla para las abadías cistercienses como la de San Benito de Valladolid, para el caso de las casas benedictinas diseñaron un modelo arquitectónico que se adaptaba a las nuevas necesidades y usos de las comunidades, de modo que independientemente de los arquitectos que se hicieran cargo de los proyectos, desde el generalato se impulsaba una organización espacial, que sin grandes diferencias se aplicó a los principales monasterios.
El objetivo de esta comunicación es definir cuáles fueron los principios que orientaron estos proyectos benedictinos y cómo se materializaron, ciñéndonos fundamentalmente a los siglos XVI y XVII, porque fue en este momento, cuando se pusieron las bases de la primera expansión arquitectónica.
El proceso de reorganización de los monasterios se prolongó durante décadas, pero tanto la Congregación de Castilla para las abadías cistercienses como la de San Benito de Valladolid, para el caso de las casas benedictinas diseñaron un modelo arquitectónico que se adaptaba a las nuevas necesidades y usos de las comunidades, de modo que independientemente de los arquitectos que se hicieran cargo de los proyectos, desde el generalato se impulsaba una organización espacial, que sin grandes diferencias se aplicó a los principales monasterios.
El objetivo de esta comunicación es definir cuáles fueron los principios que orientaron estos proyectos benedictinos y cómo se materializaron, ciñéndonos fundamentalmente a los siglos XVI y XVII, porque fue en este momento, cuando se pusieron las bases de la primera expansión arquitectónica.
Padroados Monásticos da Antiga Comarca Eclesiástica da Feira. Dinâmicas Administrativas e Artísticas
Sofia Nunes Vechina
CITCEM
CITCEM
A Comarca Eclesiástica da Feira é referida pela primeira vez no Catálogo dos Bispos do Porto, de 1623, e foi até 1840 um espaço único de administração eclesiástica, com cento e quatro freguesias.
As freguesias que constituíam a comarca da Feira estavam, na sua maioria, subjugadas à jurisdição episcopal, porém os encargos com a igreja paroquial recaiam sobre diversas entidades. As igrejas encontravam-se sujeitas ao exercício do direito de padroado. Por norma, o padroeiro recebia os dividendos da freguesia e estava obrigado à edificação, reedificação e manutenção da capela-mor e da sacristia do templo, bem como o provimento de toda a paramentaria e alfaias religiosas necessárias ao culto. À freguesia competia todo o restante edifício.
Na Comarca Eclesiástica da Feira existiam 86 freguesias afetas a padroados eclesiásticos e 18 a padroados seculares. Dentro dos padroados eclesiásticos 22 igrejas pertenciam a entidades ligadas à Sé do Porto, 26 a comendas de ordens militares e 38, a maioria, a unidades monásticas, da diocese do Porto, de Lamego e Coimbra. Nesta comunicação debruçar-nos-emos sobre este último grupo, procurando compreender a sua dinâmica administrativa e artística da Época Moderna.
As freguesias que constituíam a comarca da Feira estavam, na sua maioria, subjugadas à jurisdição episcopal, porém os encargos com a igreja paroquial recaiam sobre diversas entidades. As igrejas encontravam-se sujeitas ao exercício do direito de padroado. Por norma, o padroeiro recebia os dividendos da freguesia e estava obrigado à edificação, reedificação e manutenção da capela-mor e da sacristia do templo, bem como o provimento de toda a paramentaria e alfaias religiosas necessárias ao culto. À freguesia competia todo o restante edifício.
Na Comarca Eclesiástica da Feira existiam 86 freguesias afetas a padroados eclesiásticos e 18 a padroados seculares. Dentro dos padroados eclesiásticos 22 igrejas pertenciam a entidades ligadas à Sé do Porto, 26 a comendas de ordens militares e 38, a maioria, a unidades monásticas, da diocese do Porto, de Lamego e Coimbra. Nesta comunicação debruçar-nos-emos sobre este último grupo, procurando compreender a sua dinâmica administrativa e artística da Época Moderna.
L’arbor dell’Ordine da Igreja de São João Novo do Porto: História de um Percurso
Ana Rita Pontes
Mestre em História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Mestre em História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto
Esta apresentação tem como ponto de partida o estudo de duas pinturas que pertenceram à igreja de São João Novo da cidade do Porto (ambas com 166 x 255 cm), executadas a óleo sobre tela colada em suporte de madeira e que atualmente se encontram confiadas ao Museu Nacional Soares dos Reis. As duas telas foram encomendadas pela Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho e constituem um símbolo de memória e homenagem aos numerosos santos e beatos, congregações e ordens militares que adotaram a regra de Santo Agostinho.
Executadas nas décadas de setenta /inícios de oitenta do século XVII, as telas destinaram-se às paredes laterais da capela-mor da Igreja de São João Novo, do Porto, local que influenciou, por certo, a sua organização e composição. Apesar de se desconhecer o(s) autor(es) destas obras, sabemos que as mesmas foram realizadas a partir da gravura “L’Arbor dell’ Ordine”, da autoria do gravador e pintor italiano Oliviero Gatti (n. ca. 1579 – m. ca. 1648). O pintor anónimo copiou a assinatura de “Olivierus Gattus Placentinus”, a data de 1614 (ano da primeira impressão da gravura), o brasão do Papa Paulo V (1605-1621), o brasão do Geral da Ordem, Nicolau Giovaneto, o brasão da Ordem de Santo Agostinho, com as respetivas dedicatórias, mas substituiu o de Filipe III de Espanha pelo de Pedro II de Portugal.
Pretende-se, nesta exposição, expor o percurso das duas peças, refletir sobre as questões da datação e autoria das obras, estudar o impacto e a difusão da gravura “L’Arbor dell’Ordine” de Oliviero Gatti, esclarecer as relações de afinidade ou afastamento das duas pinturas de São João Novo em relação à gravura original de 1614, e compreender a importância da obra para a Ordem dos Agostinhos. Intenta-se demonstrar a forma como as duas pinturas foram tratadas e analisadas, bem como trazer a público novos dados sobre as peças.
Executadas nas décadas de setenta /inícios de oitenta do século XVII, as telas destinaram-se às paredes laterais da capela-mor da Igreja de São João Novo, do Porto, local que influenciou, por certo, a sua organização e composição. Apesar de se desconhecer o(s) autor(es) destas obras, sabemos que as mesmas foram realizadas a partir da gravura “L’Arbor dell’ Ordine”, da autoria do gravador e pintor italiano Oliviero Gatti (n. ca. 1579 – m. ca. 1648). O pintor anónimo copiou a assinatura de “Olivierus Gattus Placentinus”, a data de 1614 (ano da primeira impressão da gravura), o brasão do Papa Paulo V (1605-1621), o brasão do Geral da Ordem, Nicolau Giovaneto, o brasão da Ordem de Santo Agostinho, com as respetivas dedicatórias, mas substituiu o de Filipe III de Espanha pelo de Pedro II de Portugal.
Pretende-se, nesta exposição, expor o percurso das duas peças, refletir sobre as questões da datação e autoria das obras, estudar o impacto e a difusão da gravura “L’Arbor dell’Ordine” de Oliviero Gatti, esclarecer as relações de afinidade ou afastamento das duas pinturas de São João Novo em relação à gravura original de 1614, e compreender a importância da obra para a Ordem dos Agostinhos. Intenta-se demonstrar a forma como as duas pinturas foram tratadas e analisadas, bem como trazer a público novos dados sobre as peças.
Soluções Artísticas Adotadas pelos Monges de S. Bento no Brasil (Sécs. XVI-XVIII)
José Manuel Tedim
Universidade Portucalense
Universidade Portucalense
Arquiteturas da Água no Mosteiro Beneditino de S. Miguel de Bustelo (Sécs. XVII-XVIII)
Diogo Emanuel Pacheco Teixeira
CITCEM
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O fornecimento de água a núcleos urbanos, ou a outras formas de aglomeração coletiva e/ou comunitária, é condição essencial para a permanência de grupos num território. A gestão da água era regulada pelos conhecimentos de Engenharia Hidráulica e da Arquitetura, proporcionando a construção de equipamentos cujas estruturas mais visíveis são os aquedutos, os chafarizes, as cisternas, as fontes, as mães d’água, os poços, os tanques, muitas das quais ainda em função.
Este tema já vem definido desde o Período Romano, sendo Vitrúvio o primeiro autor conhecido a teorizar sobre o assunto. As suas ideias foram redescobertas pelos arquitetos da Época Moderna, levando a um processo evolutivo que se repercutiu por toda a Europa, vincando o fornecimento de água e o aparato de estruturas como aquedutos, chafarizes e fontes.
Neste trabalho pretendemos analisar as problemáticas e a implementação das arquiteturas da água no Mosteiro Beneditino de S. Miguel de Bustelo, em Penafiel, entre os séculos XVII e XIX. Nesta pesquisa centramo-nos no estudo documental dos prelados trienais patente nos «Estados de Tibães» e nas «Memórias do Mosteiro de S. Miguel de Bustelo».
Este tema já vem definido desde o Período Romano, sendo Vitrúvio o primeiro autor conhecido a teorizar sobre o assunto. As suas ideias foram redescobertas pelos arquitetos da Época Moderna, levando a um processo evolutivo que se repercutiu por toda a Europa, vincando o fornecimento de água e o aparato de estruturas como aquedutos, chafarizes e fontes.
Neste trabalho pretendemos analisar as problemáticas e a implementação das arquiteturas da água no Mosteiro Beneditino de S. Miguel de Bustelo, em Penafiel, entre os séculos XVII e XIX. Nesta pesquisa centramo-nos no estudo documental dos prelados trienais patente nos «Estados de Tibães» e nas «Memórias do Mosteiro de S. Miguel de Bustelo».
O Refeitório nos Mosteiros da Congregação de São Bento de Portugal: Formas e Funções
Eva Sofia Trindade Dias
CITCEM
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Reflexo do processo de reforma das ordens religiosas decretada pelo Concílio de Trento (15645-1563), a instituição da Congregação de São Bento de Portugal (1566) marcou o ponto de viragem na história dos beneditinos portugueses. Concomitante com as determinações para estabilizar os domínios administrativo, económico e espiritual da instituição, os monges negros procuraram, por um lado, a projeção da espiritualidade beneditina para os núcleos urbanos, através da edificação de novas casas monásticas, por outro, a consolidação arquitetónica dos conjuntos monásticos da região de Entre Douro e Minho.
O estudo sincrónico do refeitório nas vinte e duas casas monásticas pertencentes à Congregação de São Bento de Portugal pretende aferir a importância deste espaço no complexo monástico beneditino, as vivências que lhe estão associadas, assim como apurar os quadros comuns e singulares relativos aos ciclos de renovação arquitetónica e artística, cronologicamente situados entre os séculos XVI e XIX.
Espaço de reunião da comunidade para tomar as refeições, o refeitório era parte integrante de um conjunto de dependências destinadas à subsistência corporal. Este compromisso com o corpo físico não excluía, contudo, a dimensão espiritual. Muito além da supressão de necessidades fisiológicas básicas, as refeições revestiam-se de um carácter ritual e exigiam uma forma especial de comportamento. Semelhante a um ato litúrgico, contemplavam a bênção inicial, leitura, ação de graças e procissão no final, até à igreja.
De planta retangular, acessível através do claustro, o refeitório era uma divisão sóbria, onde se dispunham o mobiliário e peças necessários às suas funções. No exterior, destacava-se o lavabo esculpido em pedra, onde se realizavam as abluções. No interior, o púlpito, onde eram proclamadas as leituras. A este espaço associaram-se soluções artísticas que contribuíram para sublimar a sua dimensão espiritual, fazendo-o comungar da sacralidade que revestia espaços destacados do conjunto monástico, como a igreja e o claustro. Azulejaria, talha e pintura animaram os alçados de uma estrutura arquitetónica essencial para o normal desenvolvimento do quotidiano monástico, na generalidade dos casos consolidada, em termos construtivos, na segunda metade do século XVII e renovada ao longo da centúria seguinte. A capacidade financeira das comunidades monásticas constituiu fator chave na determinação das proporções quantitativa e qualitativa do processo de renovação arquitetónica e artística deste espaço.
O estudo sincrónico do refeitório nas vinte e duas casas monásticas pertencentes à Congregação de São Bento de Portugal pretende aferir a importância deste espaço no complexo monástico beneditino, as vivências que lhe estão associadas, assim como apurar os quadros comuns e singulares relativos aos ciclos de renovação arquitetónica e artística, cronologicamente situados entre os séculos XVI e XIX.
Espaço de reunião da comunidade para tomar as refeições, o refeitório era parte integrante de um conjunto de dependências destinadas à subsistência corporal. Este compromisso com o corpo físico não excluía, contudo, a dimensão espiritual. Muito além da supressão de necessidades fisiológicas básicas, as refeições revestiam-se de um carácter ritual e exigiam uma forma especial de comportamento. Semelhante a um ato litúrgico, contemplavam a bênção inicial, leitura, ação de graças e procissão no final, até à igreja.
De planta retangular, acessível através do claustro, o refeitório era uma divisão sóbria, onde se dispunham o mobiliário e peças necessários às suas funções. No exterior, destacava-se o lavabo esculpido em pedra, onde se realizavam as abluções. No interior, o púlpito, onde eram proclamadas as leituras. A este espaço associaram-se soluções artísticas que contribuíram para sublimar a sua dimensão espiritual, fazendo-o comungar da sacralidade que revestia espaços destacados do conjunto monástico, como a igreja e o claustro. Azulejaria, talha e pintura animaram os alçados de uma estrutura arquitetónica essencial para o normal desenvolvimento do quotidiano monástico, na generalidade dos casos consolidada, em termos construtivos, na segunda metade do século XVII e renovada ao longo da centúria seguinte. A capacidade financeira das comunidades monásticas constituiu fator chave na determinação das proporções quantitativa e qualitativa do processo de renovação arquitetónica e artística deste espaço.
Alfaias de Culto nos Conventos de Goa
Nuno Vassalo e Silva
Fundação Calouste Gulbenkian
Fundação Calouste Gulbenkian
Num entendimento integrado do património cultural, neste caso religioso, sobretudo na sua razão última de celebração do culto divino, os diferentes intervenientes, seja o edifício do ponto de vista estrutural, os revestimentos ou os elementos ornamentais adossados como móveis, não devem ser isolados. A metodologia em História da Arte valoriza tradicionalmente o seu estudo individualizado quase como que se tratassem de disciplinas autónomas ou, em casos extremos, de realidades estanques.
A leitura de descrições realizadas na época em que os monumentos ainda se encontravam em plena função, auxilia-nos a conhecer esta visão unitária ou total que procuramos de algum modo hoje recriar. Tome-se a descrição seiscentista da fábrica da Igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça, em Goa, pertencente à Ordem de Santo Agostinho e conservada nos AN/TT onde a traça do templo ocupa tanta importância como a sua ornamentação, materiais ou mesmo as alfaias de culto. Monumento de que sobrevivem hoje apenas as suas ruínas, tão celebradas pela capacidade poética de nos sugerir uma imagem de uma Goa Dourada, há muito perdida.
A nossa comunicação pretende abordar algumas das obras em prata que constituíam elemento crucial na vivência do Mosteiros e Conventos de Velha Goa, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Partiremos do exemplo da Capela do Santíssimo Sacramento da Igreja do Convento da Graça, refletindo igualmente sobre o recurso à arquitetura como modelo em obras sacras, realçando o diálogo estabelecido entre as alfaias preciosas e a própria estrutura do templo e o seu programa ornamental.
A leitura de descrições realizadas na época em que os monumentos ainda se encontravam em plena função, auxilia-nos a conhecer esta visão unitária ou total que procuramos de algum modo hoje recriar. Tome-se a descrição seiscentista da fábrica da Igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça, em Goa, pertencente à Ordem de Santo Agostinho e conservada nos AN/TT onde a traça do templo ocupa tanta importância como a sua ornamentação, materiais ou mesmo as alfaias de culto. Monumento de que sobrevivem hoje apenas as suas ruínas, tão celebradas pela capacidade poética de nos sugerir uma imagem de uma Goa Dourada, há muito perdida.
A nossa comunicação pretende abordar algumas das obras em prata que constituíam elemento crucial na vivência do Mosteiros e Conventos de Velha Goa, sobretudo nos séculos XVII e XVIII. Partiremos do exemplo da Capela do Santíssimo Sacramento da Igreja do Convento da Graça, refletindo igualmente sobre o recurso à arquitetura como modelo em obras sacras, realçando o diálogo estabelecido entre as alfaias preciosas e a própria estrutura do templo e o seu programa ornamental.
Imprimis mando corpus meum sepeliri in Monasterio Alcubaciae. Vida Monástica e Memória Régia
Lúcia Maria Cardoso Rosas
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
A criação de espaços privados no interior das igrejas ou a elas contíguos tem fundas motivações de carácter funerário e devocional. Sendo esta temática muito cara à investigação recente, tanto na produção da historiografia medieval como nas áreas da História da Arte e da Antropologia, e considerando a investigação que tem vindo a ser realizada, apresentaremos algumas reflexões sobre o tema em epígrafe.
As relações entre a vida monástica e a memória régia, tanto no que respeita à guarda dos túmulos e/ou lugares de sepultura como aos rituais e significado da presença de túmulos régios em mosteiros e conventos, constituem o principal objetivo desta comunicação. Em que medida a presença de túmulos e as respetivas doações pro anima influíram nos ritmos e rituais da vida monástica? Em que medida desenharam o acesso ao interior das igrejas? Em que medida alteraram a espacialidade das naves, transepto, cabeceira e dependências monásticas aí criando loci ou micro-espaços?
Estas reflexões serão acompanhadas de três eixos de investigação: a interpretação dos textos dos testamentos régios e outra documentação afim; a questão dos locais de sepultura fora ou dentro dos templos; a relação entre a comunidade monástica de Alcobaça e a construção da boa ou má memória dos reis.
As relações entre a vida monástica e a memória régia, tanto no que respeita à guarda dos túmulos e/ou lugares de sepultura como aos rituais e significado da presença de túmulos régios em mosteiros e conventos, constituem o principal objetivo desta comunicação. Em que medida a presença de túmulos e as respetivas doações pro anima influíram nos ritmos e rituais da vida monástica? Em que medida desenharam o acesso ao interior das igrejas? Em que medida alteraram a espacialidade das naves, transepto, cabeceira e dependências monásticas aí criando loci ou micro-espaços?
Estas reflexões serão acompanhadas de três eixos de investigação: a interpretação dos textos dos testamentos régios e outra documentação afim; a questão dos locais de sepultura fora ou dentro dos templos; a relação entre a comunidade monástica de Alcobaça e a construção da boa ou má memória dos reis.
La Arquitectura Cisterciense a través del Ejemplo del Monasterio de Melón. Ejemplos, Formas y Relaciones
Begoña Fernández Rodrígues
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
Uno de los principales monasterios de la Orden del cister en la Comunidad gallega es el Monasterio de Santa María de Melón (Melón, Ourense). Centro que en los últimos años ha sido objeto de una importante política de recuperación para sacar a la luz una arquitectura monacal, de gran importancia y potencia, que se habñia visto altamente degradad desde el proceso de la desamortización que afectó de forma especialmente cruel a este conjunto.
Es la importancia de esta fábrica y el valor de los restos conservados, asi como la intencionalidad de su presencia lo que nos permite valorar un espacio y una arquitectura, que es altamente singular y que permite analizar, las formas que desde los diferentes núcleos se irradiaron por Galicia, creando soluciones comunes para todos los centros monásticos, creando con ello espacios marcados por los mismos lenguajes y las mismas formas.
Es la importancia de esta fábrica y el valor de los restos conservados, asi como la intencionalidad de su presencia lo que nos permite valorar un espacio y una arquitectura, que es altamente singular y que permite analizar, las formas que desde los diferentes núcleos se irradiaron por Galicia, creando soluciones comunes para todos los centros monásticos, creando con ello espacios marcados por los mismos lenguajes y las mismas formas.
O Paradisium Claustralis do Mosteiro Cisterciense de Nossa Senhora da Assunção de Tabosa
Ana Cristina Sousa
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
O
As obras do claustro começaram nos primeiros dias do ano de 1703 e estavam terminadas no final do ano seguinte, revelando um trabalho “unique”, no entender de Cocheril, “svelte, élegant”. “gracieux”, “féminin” (COCHERIL, 1986: 122-124). Verdadeiro “Paradisium Claustralis”, tal como os interpretou Bernardo de Claraval, “interface de acessibilidades” próprio do legado cisterciense (ALMEIDA, 2001: 82), o claustro de Tabosa assumiu-se como um símbolo da vida orgânica interna do mosteiro, e espaço de repouso eterno para muitas das freiras que aqui viveram e passaram “para a outra vida (…) com signaes de bem aventuradas.” (CARVALHEIRA, 2004: 198). Mas é também a materialização de um programa arquitetónico erudito, de rico debuxo, cujas raízes devem ser procuradas na tratadística flamenga e francesa de Quinhentos e Seiscentos, expondo uma arquitetura “senza tempo” que merece, sem dúvida, reflexão e análise.
mosteiro de Nossa Senhora de Tabosa situa-se na freguesia do Carregal, concelho de Sernancelhe. Construído entre finais do século XVII e as primeiras décadas do XVIII, foi a última fundação feminina da Ordem de Cister, devendo-se a sua edificação ao voto pio de D. Maria Pereira. A “Escritura de Doação, Dotação e Fundação” do Mosteiro foi assinada em casa da benemérita, a 22 de abril de 1692, na presença dos Abades D. Diogo de Castelo Branco, de São Pedro das Águias e de Manuel Coelho, de Santa Maria de Salzedas, comissários e procuradores do Abade Geral da Congregação de Alcobaça, que declararam aceitar “todos os encargos, cláusulas, condições e obrigações” anunciados (SANTOS, 2002: 45). Os terrenos destinados à construção do cenóbio foram os da Quinta da Rua, local onde residia e que herdara do seu primeiro marido, Diogo Ribeiro Homem. O lugar era então muito pouco povoado, ideal para a satisfação dos princípios de isolamento, solidão, recolhimento e comunhão com a natureza determinados pela Ordem (MARTINS, 2007: 194), marcado pelos invernos rigorosos e prolongados, gerados pelo Diabo “para tormento da Serra” (Ribeiro, 1983: 47). Convidava, assim, à presença de um grupo de devotas de clausura, que não podiam ultrapassar a cerca, plenamente dedicadas à vida espiritual, rezando pelos vivos e zelando pelas almas dos falecidos, nomeadamente a da benemérita, sepultada na capela-mor da igreja do mosteiro para que as religiosas lhe “acomodassem a alma” (SANTOS, 2002: 60).
As obras do claustro começaram nos primeiros dias do ano de 1703 e estavam terminadas no final do ano seguinte, revelando um trabalho “unique”, no entender de Cocheril, “svelte, élegant”. “gracieux”, “féminin” (COCHERIL, 1986: 122-124). Verdadeiro “Paradisium Claustralis”, tal como os interpretou Bernardo de Claraval, “interface de acessibilidades” próprio do legado cisterciense (ALMEIDA, 2001: 82), o claustro de Tabosa assumiu-se como um símbolo da vida orgânica interna do mosteiro, e espaço de repouso eterno para muitas das freiras que aqui viveram e passaram “para a outra vida (…) com signaes de bem aventuradas.” (CARVALHEIRA, 2004: 198). Mas é também a materialização de um programa arquitetónico erudito, de rico debuxo, cujas raízes devem ser procuradas na tratadística flamenga e francesa de Quinhentos e Seiscentos, expondo uma arquitetura “senza tempo” que merece, sem dúvida, reflexão e análise.
En Busca de la Soledad. Las Casas Franciscanas en el Medio Rural de Galicia
José M. García Iglesias
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
Facultad de Geografia e Historia de la Universidad de Santiago de Compostela | Iacobus (GI-1907)
No todo el franciscanismo se identificó con el mundo urbano; hay una tendencia, también, entre los miembros de tal orden, que ansía una vida propia de eremitas, lo que les lleva a ubicar sus moradas en un ámbito rural, en un movimiento que se vincula con la introducción de la Observancia. Puede llegar a ser tan acusada esta actitud que, en algunos casos, vivieron en islas inicialmente despobladas – las Cíes, San Simón-. En otros buscaron una relativa distancia con respecto a núcleos de población ya existentes: relativamente cercano a la villa de Muros está el convento de Louro; también próximo a Padrón, se encuentra el convento de San Antonio de Herbón; y, en relación con Mugardos, cabe entender la existencia del de Santa Cristina de Montefaro.
En algunos de tales conventos eran tan precarias las condiciones de vida, en las ubicaciones inicialmente elegidas, que, pasado un tiempo, ciertas comunidades que vivían en dificultosos parajes rústicos se trasladaron a villas que estaban relativamente cercanas; los conventos de Noia y de Ribadavia nacieron de este modo. En otras ocasiones, en cambio, esta corriente franciscana buscó el mundo rural por otras razones; los conventos de San Sadurniño y del Bon Xesús de Trandeiras obedecen a estas características.
En algunos de tales conventos eran tan precarias las condiciones de vida, en las ubicaciones inicialmente elegidas, que, pasado un tiempo, ciertas comunidades que vivían en dificultosos parajes rústicos se trasladaron a villas que estaban relativamente cercanas; los conventos de Noia y de Ribadavia nacieron de este modo. En otras ocasiones, en cambio, esta corriente franciscana buscó el mundo rural por otras razones; los conventos de San Sadurniño y del Bon Xesús de Trandeiras obedecen a estas características.
Convento de Nuestra Senhora das Ursulas de Salamanca (Siglos XV-XVI)
António Casaseca Casaseca
Universidad de Salamanca
Universidad de Salamanca
Do Mosteiro Pro-fílmico ao Convento Cinematográfico. As Mulheres da Beira (1923) de Rino Lupo
Hugo Barreira
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Faculdade de Letras da Universidade do Porto | CITCEM
Filmado em 1921, no âmbito da colaboração de Rino Lupo na Invicta Film, “As Mulheres da Beira” resulta da adaptação do conto “A Frecha da Mizarela” de Abel Botelho. Mercê do gosto pelo improviso do realizador italiano, a produção arrasta-se e distancia-se da estrita organização pela qual se pautava a empresa portuense. O mais percetível resultado foi o adiamento da estreia, apenas em 1923, já depois de Lupo ter abandonado a Invicta e ter realizado a sua obra mais marcante em Portugal, “Os Lobos”. Havendo igualmente a hipótese de não ter sido Lupo a montar o filme final.
“As Mulheres da Beira” distingue-se igualmente da restante produção da Invicta Film pela marcante presença das filmagens de exteriores, para o que muito contribuiu a fotografia de Artur Costa de Macedo, que desenvolvia uma profícua carreira como documentarista.
Será justamente a presença de exteriores, filmados in loco em Arouca e na sua envolvente, que confere ao filme de Lupo uma grande importância como documento.
O nosso estudo incidirá sobre o Mosteiro de Arouca, mencionado singelamente no conto original e transformado em lugar e cenário da ação, presente de forma continuada, explícita ou implicitamente, ao longo das desventuras de Ana, a personagem principal. A apropriação dos espaços reais, pro-fílmicos, do Mosteiro, e as suas recriações em estúdio, fornecem-nos um outro nível de documento, de um olhar que o lê e transforma, viajando no espaço e no tempo.
De importante elemento definidor e ordenador dos espaços e modus vivendi de Arouca, o “convento” do filme é também lugar de ordenação de comportamentos na ação, permitindo a Rino Lupo a tradução, ou romantização, do naturalismo de Abel Botelho. Do mesmo modo, a imagem do “convento” é amplificada, ramificando-se nas manifestações religiosas que Lupo lhe associa. Mercê de um olhar imaginativo que, a partir da análise dos lugares visitados pela produção, sintetiza uma imagem de um Portugal tradicional, o filme materializa, de um modo original, uma imagem de um Portugal nacional e tradicional, plenamente de acordo com os requisitos das produções coevas da Invicta Film.
“As Mulheres da Beira” distingue-se igualmente da restante produção da Invicta Film pela marcante presença das filmagens de exteriores, para o que muito contribuiu a fotografia de Artur Costa de Macedo, que desenvolvia uma profícua carreira como documentarista.
Será justamente a presença de exteriores, filmados in loco em Arouca e na sua envolvente, que confere ao filme de Lupo uma grande importância como documento.
O nosso estudo incidirá sobre o Mosteiro de Arouca, mencionado singelamente no conto original e transformado em lugar e cenário da ação, presente de forma continuada, explícita ou implicitamente, ao longo das desventuras de Ana, a personagem principal. A apropriação dos espaços reais, pro-fílmicos, do Mosteiro, e as suas recriações em estúdio, fornecem-nos um outro nível de documento, de um olhar que o lê e transforma, viajando no espaço e no tempo.
De importante elemento definidor e ordenador dos espaços e modus vivendi de Arouca, o “convento” do filme é também lugar de ordenação de comportamentos na ação, permitindo a Rino Lupo a tradução, ou romantização, do naturalismo de Abel Botelho. Do mesmo modo, a imagem do “convento” é amplificada, ramificando-se nas manifestações religiosas que Lupo lhe associa. Mercê de um olhar imaginativo que, a partir da análise dos lugares visitados pela produção, sintetiza uma imagem de um Portugal tradicional, o filme materializa, de um modo original, uma imagem de um Portugal nacional e tradicional, plenamente de acordo com os requisitos das produções coevas da Invicta Film.
Bom Jesus de Valverde, Évora. Imaginário de Pedraria - Espaçar, Habitar
Marta Maria Peters Arriscado Oliveira
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto | CEAU
Une maison est une machine à habiter (Le Corbusier, Vers une architecture). Uma interrogação do sentido de ‘habitar o convento’. Humanismo e renascimento em Évora, em torno do paço e do conventinho de Valverde. Construir, morar, pensar. Machina memorialis, um imaginário de pedraria.
Um lugar de retiro e de vida solitária, uma forma de doutrina e o apartamento como pregação de virtudes. Partir, sair da morada entre as gentes, por um caminho mui fragoso andar três dias e entrar no ermo.
A igreja de Bom Jesus, de re aedificatoria. Quatro capelas e o cruzeiro de luz no centro - Presépio, Calvário, Ressurreição. Na entrada, sombra trevosa e escura – silêncio, como se fora interpelação de Frei Bartolomeu dos Mártires – Dize-me tu, quem és? (Compendium). Boosco nevooso, princípio de começar de morar – intentio.
A quintaa de Jesu. Espaçar, dispositivos de memória e construções da mente, filamentos de uma teia de invenção e composição de meditação. Capelas, oratórios, campo, ervas, árvores, flores, água. Uma ermida com três capelinhas, a casa de cristal, canos de prata, a casa cerrada, o monte muito alto. Boosco deleitoso, contemplação, movimento, consolação da alma.
E ainda quando tudo já esquece (scientia inflat), charitas aedificat. Comunidade. Uma parede transparente no coração da clausura, o capítulo e a cozinha, a portaria. Acolhimento e hospitalidade, em lembrança de um humilde porteiro observador de estrelas.
Um lugar de retiro e de vida solitária, uma forma de doutrina e o apartamento como pregação de virtudes. Partir, sair da morada entre as gentes, por um caminho mui fragoso andar três dias e entrar no ermo.
A igreja de Bom Jesus, de re aedificatoria. Quatro capelas e o cruzeiro de luz no centro - Presépio, Calvário, Ressurreição. Na entrada, sombra trevosa e escura – silêncio, como se fora interpelação de Frei Bartolomeu dos Mártires – Dize-me tu, quem és? (Compendium). Boosco nevooso, princípio de começar de morar – intentio.
A quintaa de Jesu. Espaçar, dispositivos de memória e construções da mente, filamentos de uma teia de invenção e composição de meditação. Capelas, oratórios, campo, ervas, árvores, flores, água. Uma ermida com três capelinhas, a casa de cristal, canos de prata, a casa cerrada, o monte muito alto. Boosco deleitoso, contemplação, movimento, consolação da alma.
E ainda quando tudo já esquece (scientia inflat), charitas aedificat. Comunidade. Uma parede transparente no coração da clausura, o capítulo e a cozinha, a portaria. Acolhimento e hospitalidade, em lembrança de um humilde porteiro observador de estrelas.
Espaços Monásticos e Conventuais em Macau
Pedro Dias
Universidade de Coimbra
Universidade de Coimbra
De todos os territórios de além-mar onde os portugueses se fixaram, por mais ou menos tempo, Macau teve uma singularidade, que foi a de ter uma dupla administração, portuguesa e chinesa.
Desde a década de 50 do século XVI que na pequena península do Estuário do Rio das Pérolas havia comerciantes portugueses, com ligações a Malaca e a várias cidades da Índia, particularmente Goa, Cochim e Diu, mas também ao Japão. Macau teve uma vida atribulada, com desacertos constantes entre as autoridades locais, o Senado, criado em 1583, e o mandarim da Casa Branca, que controlava de perto a nascente cidade, e mesmo as autoridades de Cantão. O isolamento da China era uma constante, mas a existência de Macau permitiu, durante a maior parte do tempo, contornar esse bloqueio, com proveitos para os funcionários alfandegários e autoridades regionais, e contra as ordens emanadas de Pequim.
Com o estabelecimento definitivo de portugueses, e não apenas de acampamentos temporários, estabeleceu-se uma rede de institutos religiosos, vindo a Cidade do Santo Nome de Deus da China a ser sede de uma Diocese, e a ter um importantíssimo colégio da Companhia de Jesus, a instituição com maior peso, naquelas partes do Mundo, no âmbito da missionação e difusão da Cultura Europeia.
Sendo o tema da comunicação os espaços conventuais, analisaremos o totalmente desaparecido convento de Santa Clara, o convento de São Francisco de que restam algumas das dependências habitacionais, completamente desvirtuadas, e também as igrejas dos conventos dos padres dominicanos e agostinhos, as únicas deste tipo ainda de pé e em uso, apesar de profundamente remodeladas.
Desde a década de 50 do século XVI que na pequena península do Estuário do Rio das Pérolas havia comerciantes portugueses, com ligações a Malaca e a várias cidades da Índia, particularmente Goa, Cochim e Diu, mas também ao Japão. Macau teve uma vida atribulada, com desacertos constantes entre as autoridades locais, o Senado, criado em 1583, e o mandarim da Casa Branca, que controlava de perto a nascente cidade, e mesmo as autoridades de Cantão. O isolamento da China era uma constante, mas a existência de Macau permitiu, durante a maior parte do tempo, contornar esse bloqueio, com proveitos para os funcionários alfandegários e autoridades regionais, e contra as ordens emanadas de Pequim.
Com o estabelecimento definitivo de portugueses, e não apenas de acampamentos temporários, estabeleceu-se uma rede de institutos religiosos, vindo a Cidade do Santo Nome de Deus da China a ser sede de uma Diocese, e a ter um importantíssimo colégio da Companhia de Jesus, a instituição com maior peso, naquelas partes do Mundo, no âmbito da missionação e difusão da Cultura Europeia.
Sendo o tema da comunicação os espaços conventuais, analisaremos o totalmente desaparecido convento de Santa Clara, o convento de São Francisco de que restam algumas das dependências habitacionais, completamente desvirtuadas, e também as igrejas dos conventos dos padres dominicanos e agostinhos, as únicas deste tipo ainda de pé e em uso, apesar de profundamente remodeladas.